Incêndio na Catedral de Notre Dame de Paris
Catedral Notre Dame de Paris em chamas |
A segunda-feira 15 de Abril não foi um dia fácil. Além da censura contra a revista Crusoé e o site O Antagonista, também testemunhamos o incêndio que destruiu parte da Catedral Notre Dame de Paris, na França, patrimônio da humanidade e um dos monumentos históricos mais visitados da Europa. Notre Dame, que significa Nossa Senhora em francês, é um dos templos católicos mais visitados no mundo todo e este incêndio, em plena Semana Santa, tem um peso emocional muito grande!
A Catedral, construída em estilo gótico, teve sua pedra fundamental lançada no ano de 1163, e levou quase 180 anos para ser totalmente concluída. Imponente, famosa pelas suas gárgulas, é reconhecida no mundo todo. Sua fama se deve, em parte, ao escritor francês Victor Hugo, que publicou em 1831 o seu livro O Corcunda de Notre Dame, onde descreveu detalhes da igreja e o seu estado de abandono. A popularidade da obra de Victor Hugo levou a realização de um trabalho de restauração que ocorreu entre 1844 e 1864.
Durante a sua longa história, de mais de 850 anos, Notre Dame serviu de palco ou testemunhou vários eventos históricos. Mesmo antes de estar totalmente concluída, já atraía cavaleiros cristãos, que iam até lá rezar e pedir proteção antes de partir para as Cruzadas. Notre Dame também viu passar mais de três dezenas de reis franceses. Sobreviveu à Revolução Francesa (1789-1799), embora tenha sido saqueada e várias de suas estátuas destruídas. Vários dos sinos originais da torre norte foram derretidos, para a fabricação de balas de canhão. Ainda durante a revolução foi convertida em Templo da Razão, uma espécie de religião da Nova República francesa, tendo suas cruzes removidas e as imagens da Virgem Maria substituídas por estátuas da deusa da liberdade. Chegou a ser transformada em depósito e somente em 1801 voltou a ser um templo católico. Viu o ressurgimento da monarquia francesa e foi o local de coroação de Napoleão Bonaparte. Após a queda de Napoleão e os restauros citados acima, ainda sobreviveu às duas guerras mundiais!
Em 1685 foi instalado na torre sul, o sino Emanuel, o maior da catedral. Estando lá até hoje, marcou a passagem das horas durante os dias e em 1944 badalou para celebrar a libertação da França das mãos dos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial. Ainda sobre sinos, aqueles que foram removidos durante a Revolução Francesa, foram substituídos no século XIX, porém eram considerados "desafinados", e foram substituídos em 2013, para as celebrações dos 850 anos da catedral!
Ainda não se sabe as causas do incêndio, que destruiu todo o telhado de madeira e a agulha, a estrutura mais alta da igreja. Mesmo com o colapso do telhado, o teto de pedra da igreja permaneceu intacto, o que ajudou a minimizar os danos. Até onde se sabe, os vitrais, o altar, o púlpito e boa parte das pinturas e esculturas internas foram preservados do fogo!
Felizmente não houve vítimas fatais. Agora deve ser feita a perícia para determinar as causas do incêndio. Até agora as evidências apontam para um incêndio acidental, provocado provavelmente, pelas obras de restauração que estavam sendo realizadas no telhado da catedral, embora a hipótese de incêndio criminoso não esteja descartada.
Me doeu o coração ver as imagens pela TV, mostrando o fogo consumindo séculos de história. Felizmente muita coisa foi preservada, ao contrário do que aconteceu quando o Museu Nacional pegou fogo! É um dos lugares que eu quero conhecer, e este incêndio me ligou o alerta de que, se eu não for conhecer logo estes lugares históricos, principalmente os que estão na Europa, talvez eu não tenha mais a oportunidade de conhecê-los. Li muitas manifestações de ódio e de desdém, gente alegre com uma tragédia dessas. Gente que não tem consciência para preservar o patrimônio histórico, não tem alma nem coração. Sou cristão, mas não sou católico, sou protestante. Nem por isso me alegro com a destruição de um templo católico! Aliás, não me alegrei com os fiéis assassinados numa mesquita na Nova Zelândia, não me alegrei quando os fanáticos do Taliban destruíram a estátua de Buda em Bamiyan. Não me alegro quando as pessoas destroem o patrimônio histórico, artístico e cultural, mesmo sendo templos de outras religiões!
Amo história! Gosto de poder olhar para trás e saber de onde vim, porque me ajuda a ter uma ideia de quem sou e para onde vou! Gosto de olhar para trás e ver a rica história da nossa nação, e saber que faço parte de um povo culturalmente rico! O que Notre Dame tem com isso? Lembram-se dos cavaleiros cruzados que iam até lá pedir proteção antes de sair para as batalhas? Eles defendiam não apenas a fé cristã, mas toda a civilização ocidental, da qual todos nós, cristãos ou não, fazemos parte! Por isso, acho que esta perda não é motivo de tristeza apenas para os franceses e os católicos. É motivo de tristeza para toda a humanidade.
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