A viagem de Bolsonaro à Israel


Avião presidencial brasileiro pousa no Aeroporto Internacional Ben Gurion
em Tel Aviv, Israel

Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu recepciona o Presidente Jair Bolsonaro
no Aeroporto Internacional Ben Gurion

No domingo, 31 de Março, o avião presidencial conduzindo o presidente Jair Bolsonaro, pousou no Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel Aviv, Israel. O presidente Bolsonaro foi recebido no aeroporto pelo primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em uma honraria dispensada a poucos chefes de estado. A visita oficial a Israel, a terceira viagem oficial realizada por Bolsonaro desde a sua posse, tem como objetivo aproximar os dois países, estreitando as relações diplomáticas e econômicas entre ambos.

Cerimônia de recepção ao presidente brasileiro
no Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel Aviv

Viajam com o presidente os ministros Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, Bento Albuquerque, das Minas e Energia, Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia e Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional. Brasil e Israel tem áreas de interesse comum, como por exemplo Segurança, Tecnologia e Saúde, além do recente alinhamento político e do antigo interesse religioso por parte da população cristã, em especial dos evangélicos.

Bolsonaro manifestou, desde a campanha eleitoral, seu desejo de estreitar os laços com Israel, chegando a afirmar que mudaria a embaixada brasileira naquele país, de Tel Aviv, para Jerusalém, reconhecendo com este ato a cidade como sendo a capital de Israel, o que foi bem recebido pelo governo israelense. Em uma atitude de reciprocidade, o primeiro ministro Benjamin Netanyahu compareceu à posse de Bolsonaro, sendo o primeiro chefe de governo israelense a visitar o Brasil. Na ocasião, Bolsonaro afirmou  que Israel seria um dos primeiros países que visitaria.

A visita ocorreu em um momento importante para Netanyahu, que se encontrava em campanha eleitoral buscando a sua reeleição, e a ida de Bolsonaro a Israel naquele momento poderia gerar um fato político favorável a Netanyahu. Embora Bolsonaro tenha adiado a transferência da embaixada brasileira, de Tel Aviv, para Jerusalém, preferindo optar pelo anúncio da abertura de um escritório de negócios na cidade, a visita tem um caráter simbólico importante, mais para Israel que para o Brasil.

O recuo de Bolsonaro em relação à questão de mudança da embaixada, ocorreu devido à intensa pressão exercida, desde que o assunto surgiu ainda durante a corrida eleitoral,  por grupos contrários à ideia, como o agronegócio, que teme que esta atitude leve a uma reação dos países árabes, com os quais temos intenso comércio de proteína halal, que é a carne de animais abatidos segundo as regras islâmicas, e os militares, além de diplomatas, que apontam que esta atitude mudaria a posição histórica do Brasil de isenção em relação à questão envolvendo Israel e Palestina. Além disso, desde os anos 1980, a ONU pede que os estados-membros não abram suas representações diplomáticas em Israel, na cidade de Jerusalém, já que a questão envolvendo a soberania sobre a cidade ainda se encontra indefinida, com Israel e Palestina reivindicando a cidade como capital.

Os palestinos criticaram a visita de Bolsonaro, que nem sequer respondeu a um convite feito pela Autoridade Palestina, para visitar a região. O grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza, e que é considerado um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos e pela União Européia, emitiu uma nota de repúdio à visita de Bolsonaro, que foi divulgada, em sua conta no Twitter, pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), acompanhada do comentário "Quero que vocês se explodam!!!". Após a repercussão negativa, com críticas vindas até do deputado Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o tuíte foi apagado pelo senador, que acompanhou o presidente Bolsonaro à Israel. Houve também um protesto por parte do Greenpeace, grupo de ecologistas, que pediam a Bolsonaro que parasse com a destruição da Amazônia.

Greenpeace protesta em Israel, durante a visita de Bolsonaro,
pedindo que ele pare a destruição da Amazônia

O presidente Bolsonaro e o primeiro ministro Netanyahu assinaram acordos nas áreas de tecnologia, para promover a cooperação entre instituições científicas e tecnológicas de ambos os países, Segurança Pública, Prevenção e Combate ao Crime Organizado, Defesa, para promover a cooperação mútua, a coparticipação em projetos e pesquisas, trocas de tecnologias e educação militar e Serviços Aéreos, o que facilitará o trânsito aéreo entre os dois países. Foi assinado também um memorando de entendimento na área de Segurança Cibernética e um  Plano de Cooperação nas áreas de Medicina e Saúde.

Bolsonaro e Netanyahu assinam acordos de cooperação
entre Brasil e Israel, em várias áreas

Presidente Jair Bolsonaro e Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu

O presidente brasileiro condecorou os militares israelenses integrantes da Brigada de Busca e Salvamento, que estiveram no Brasil, para auxiliar nas buscas pelos desaparecidos, depois do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Os militares israelenses receberam a insígnia da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta honraria concedida pelo governo brasileiro a cidadãos estrangeiros.

Presidente Bolsonaro condecora militares israelenses
que auxiliaram nas buscas em Brumadinho

Bolsonaro também participou de encontros com empresários e, ao lado de Netanyahu, visitou um feira de tecnologia. Além da agenda oficial, Bolsonaro também visitou pontos turísticos, tais como a Basílica do Santo Sepulcro, construída sobre o local onde o corpo de Jesus Cristo teria sido colocado após a crucificação, e de onde teria ressuscitado depois de três dias, e o Muro das Lamentações, um resquício do Segundo Templo judaico, destruído pelos romanos em 70 d.c.,  que existiu no local hoje ocupado pela Esplanada das Mesquitas, onde estão construídas as mesquitas de Al-Aqsa e o Domo da Rocha, locais sagrados para o Islamismo. Todo este complexo está construído sobre o Monte Moriá, ou Monte do Templo, local sagrado para as três maiores religiões monoteístas, o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo, fazendo com que seja um dos locais mais disputados da Terra.

Bolsonaro e Netanyahu durante visita ao Muro das Lamentações

Por se localizar em Jerusalém Oriental, território ocupado por Israel durante a Guerra dos Seis Dias em 1967, e contestado por várias nações, com várias resoluções da ONU condenando a ocupação israelense, geralmente os líderes estrangeiros visitam o local sem a companhia de autoridades israelenses, dando desta forma, um caráter pessoal à visita, evitando-se assim, qualquer atitude que possa ser diplomaticamente interpretada como um endosso às pretensões israelenses sobre o local. Ao ser acompanhado por Netanyahu durante a visita, Bolsonaro mostra uma mudança na postura diplomática brasileira, que sempre apoiou as resoluções da ONU que condenam a ocupação israelense. Apesar disso, o Itamaraty, através do chanceler Ernesto Araújo, afirmou categoricamente que se tratou de uma visita com caráter meramente "religioso", e que não significava qualquer mudança de postura na diplomacia brasileira. Vamos ver, o tempo dirá! Tudo depende agora dos próximos passos que serão dados pelo governo brasileiro nesta aproximação com Israel.

Eu não vejo nenhum problema em incrementar as nossas relações diplomáticas e comerciais com Israel, ou com quaisquer  países com os quais já tenhamos relações estabelecidas. Precisamos, sim, buscar novos parceiros comerciais, ampliar os mercados para os nossos produtos de exportação e buscar investimentos para auxiliar na recuperação da nossa economia. O governo Bolsonaro vem fazendo um bom trabalho ao oferecer ativos estatais para empresas privadas, por isso, quanto mais parceiros e investidores pudermos buscar, melhor será para todos nós. Só acho que o governo precisa ter um pouco mais de cuidado com a diplomacia. Esta é uma área onde todas as palavras e todos os gestos precisam ser pensados com antecedência, pois tudo tem um significado e uma interpretação diplomática. Não somos um anão diplomático, ao contrário, nossa Chancelaria e diplomacia é historicamente reconhecida e respeitada, e a própria lembrança de Osvaldo Aranha, chanceler brasileiro que presidiu a Assembleia Geral das Nações Unidas, que aprovou a partilha da Palestina entre judeus e árabes, em 1947, feita por Bolsonaro em seu primeiro discurso em solo israelense, feito durante a solenidade de recepção realizada no Aeroporto Internacional Ben Gurion, reforça este entendimento. Nosso atual chanceler só precisa deixar de lado o posicionamento ideológico e adotar um posicionamento que represente de fato o desejo do Estado Brasileiro.

Até o momento, não houve retaliações por parte de países árabes, por conta da abertura do escritório comercial em Jerusalém. O embaixador da Autoridade Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, diz que a comunidade árabe está em compasso de espera, aguardando os próximos passos que serão dados pelo governo brasileiro, para então adotar medidas mais duras contra o Brasil. Espero que o governo se lembre que foi eleito, acima de tudo, para cuidar dos interesses do povo e da nação brasileira, e não de interesses ideológicos de grupelhos que não representam a vontade da maioria do povo. Lembrem-se do lema: Brasil acima de tudo! Que este lema não fique apenas na retórica!

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