Furacão em Brasília
Quem me acompanha através da minha conta no Twitter, deve ter visualizado os três pequenos vídeos que postei, mostrando um pouco do Tufão Hagibis, que nos atingiu no final de semana passado. Felizmente a minha região foi pouco afetada, mas outras áreas do Japão sofreram muitos danos, por conta dos fortes ventos e da chuva intensa, com alagamentos e deslizamentos de terra. Infelizmente pessoas perderam a vida também. Mas graças a Deus a tragédia não foi maior, pois atingiu uma região habitada por milhões de pessoas.
Foi com tudo isto ainda fresco na memória, que escrevi em minha conta no Twitter que "O vento está balançando a árvore da Direita. Folhas secas serão carregadas e frutas podres cairão. Não se preocupem, é natural, parte do processo. Logo teremos novas folhas e novos frutos". Escrevi isto no dia 16, em meio à ansiedade causada pela espera da decisão que o STF tomaria a respeito da questão da prisão após o julgamento em segunda instância, marcado para a quinta-feira 17, e que acabou nem sendo decidida. O fato de estar 12 horas à frente do Brasil, por conta do fuso horário, às vezes só serve para aumentar a ansiedade e causar insônia!
Essa reflexão a respeito do vento e da árvore não é por acaso. É uma maneira de expressar o desejo que eu tenho por mudanças profundas, por uma faxina ética na nossa política e nas nossas Instituições. Eu quero ver o Brasil ocupar o seu lugar no mundo, quero ver o nosso povo desfrutar de toda a riqueza que o nosso país possui. Sei que milhões de brasileiros compartilham deste mesmo sentimento. Queremos mudanças! Eu só não sabia que aquele vento que eu via balançando a árvore da Direita naquele momento, era o prenúncio de um furacão!
Mas ao contrário de um furacão tradicional, que geralmente possui dimensões imensas, atingindo áreas enormes, este furacão se concentrou apenas em Brasília. Foi bem localizado e bem específico, atingindo em cheio o Partido Social Liberal (PSL), o partido ao qual pertence o presidente Jair Bolsonaro. O presidente já havia exposto o seu descontentamento com a direção do partido, em um vídeo divulgado pela imprensa, e do qual tratei aqui. Pois o furacão, que atingiu um partido que já estava com parte das vísceras podres à mostra, acabou por expor muito mais. O seu presidente, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE), foi alvo de uma operação da Polícia Federal. Vieram a público um vídeo que mostrava o líder do partido na Câmara, o deputado delegado Waldir (PSL-GO), alterado e parecendo embriagado, e também gravações de conversas entre o presidente Bolsonaro e deputados do partido que estavam articulando a substituição do líder do partido na Câmara. Até esta substituição acabou se tornando complicada, com várias listas circulando para angariar as assinaturas necessárias, tanto para manter o delegado Waldir na liderança, como para eleger o deputado Eduardo Bolsonaro o novo líder do partido na Câmara.
O líder do governo na Câmara, o major Vítor Hugo (PSL-GO) chegou a anunciar a substituição, mas a guerra de listas de apoio causou uma confusão que só terminou quando fui oficialmente divulgado que o delegado permaneceria na liderança do partido. Vale lembrar aqui que a insatisfação de muitos parlamentares (e minha também) com o trabalho de Waldir, se deve à sua atuação muitas vezes prejudicial ao governo, que em várias ocasiões causou um racha na bancada do partido governista. No último episódio, no dia 15, Waldir orientou a bancada a obstruir a votação da MP da Reforma Administrativa, uma medida de interesse do governo, além de ameaçar pedir os mandatos dos parlamentares que se desfiliarem da legenda. Em diálogo que foi amplamente divulgado pela imprensa, o delegado foi flagrado ameaçando implodir o presidente Bolsonaro, inclusive o chamando de vagabundo!
Mas o grande furacão mesmo foi a revelação dos bastidores de todos estes problemas. Parlamentares que se diziam aliados do presidente Bolsonaro foram flagrados em diálogos onde claramente mostram que possuem interesses próprios e que estão trabalhando por estes interesses, e não pelo governo ou pelo país. As coisas atingiram tal proporção, que a líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), acabou perdendo o seu cargo. Se mostrando muito magoada, saiu agredindo os eleitores de Bolsonaro nas redes sociais, o que causou uma diminuição considerável no número de seguidores em suas redes sociais. Em reunião realizada em Brasília ontem (18/10), a cúpula do partido aprovou a ampliação de poderes de Bivar e a suspensão de cinco deputados federais da legenda, que haviam trabalhado pela substituição do delegado Waldir como líder do partido na Câmara. Com estas punições, o partido impede novas tentativas de se colocar Eduardo Bolsonaro na liderança.
Eu já tinha escrito a respeito do PSL neste artigo. E diante de tudo o que aconteceu, reitero tudo o que escrevi antes. O PSL precisa mostrar a que veio. Hoje está claro para todos que existem dois núcleos dentro do partido: o núcleo do presidente Bolsonaro, que quer transparência, coerência e trabalho sério pelo país; e o grupo do presidente Bivar, interessado na repartição do milionário fundo partidário e nos cargos e favores que pode obter. O primeiro grupo simbolizando a nova política e o segundo, representando a velha política fisiológica e ultrapassada.
O PSL só é o que é hoje graças a filiação de Bolsonaro e de seus filhos. O nome Bolsonaro atraiu para o partido muitos candidatos, que surfaram na onda, como a imprensa gosta de dizer, tirando o partido da insignificância e o transformando na segunda maior bancada da Câmara. Mas acho que os políticos que estão nesta briga partidária, estão tão distraídos que estão se esquecendo de um detalhe muito importante: o eleitor! E o eleitor já mostrou de que lado está. Não adianta o presidente do partido prometer mundos e fundos hoje, pois se amanhã Bolsonaro mudar de legenda ou fundar um novo partido, o cobiçado fundo eleitoral, hoje gordo, no futuro encolherá novamente. E os políticos que ficarem contra Bolsonaro não poderão mais contar com o apoio dos eleitores, mesmo que mudem de partido!! Por mais que possa ser difícil para muitos admitir, sem Bolsonaro o PSL simplesmente acabará. Dentro do PSL, estes dois grupos antagônicos possuem um trunfo cada um: Bolsonaro tem imenso capital político, Bivar tem o fundo partidário e a máquina partidária. Qual trunfo é o mais poderoso? A meu ver, o capital político, é claro! Já que o capital político, se bem cuidado, não tem prazo de validade, ao passo que o dinheiro do fundo partidário, um dia acaba!
A palavra que mais li nos últimos dias, foi a palavra traidor. Traidores, é assim que a grande massa de apoiadores de Bolsonaro considera aqueles que, antes apoiadores, agora se posicionam contra o presidente. E com estes eleitores, não há meio termo, ou se está a favor, ou contra Bolsonaro. E uma vez considerado traidor pelos milhões de brasileiros que acreditam no governo do presidente Bolsonaro, não há mais retorno! É um caminho sem volta. Um político deveria pensar muito antes de se colocar nesta posição. Joice é uma das pessoas que está sentindo na própria pele o que estou escrevendo aqui: em apenas 24 horas, suas redes sociais perderam mais de 100 mil seguidores. Para uma pessoa que se importa tanto com os holofotes, deve ser um baque terrível, ainda mais se considerarmos as pretensões eleitorais dela para 2020.
Enfim, que cada político pense bem de que lado quer ficar. Me parece que depois da reunião de ontem, a permanência do presidente Bolsonaro no partido fica mais difícil, mas tem o problema envolvendo os mandatos, já que muitos apoiadores do presidente dentro do partido poderiam perder os seus mandatos se mudarem de legenda. Teremos que aguardar mais alguns dias para ver como ficam as coisas. Será que o PSL está com os dias contados? Difícil saber agora. Aqueles que já foram desmascarados, já foram massacrados pelos bolsonaristas nas redes sociais, e podem ter como certa a sua morte política. Aqueles que ainda não foram desmascarados, tem agora a chance de se arrependerem e de ficar do lado certo. Pois se forem desmascarados no futuro, serão considerados traidores piores que os da primeira hora!
Na próxima semana teremos a votação em segundo turno da Reforma da Previdência no Senado. Concluída esta importante reforma, vamos ver como o PSL se comportará nas votações daqui pra frente e como o delegado Waldir vai liderar a bancada nos assuntos de interesse do governo. Estamos de olho! E mesmo que as coisas permaneçam aparentemente iguais, espero que os políticos não se esqueçam de nós, os eleitores, pois nós não nos esqueceremos deles e mudaremos este quadro nas próximas eleições! Folhas secas foram carregadas e frutas podres se arrebentaram no chão. Que o vento continue soprando forte!
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