Qual será o futuro da Argentina?

Alberto Fernández e Maurício Macri

Hoje, 27 de Outubro, ocorrerá o primeiro turno das eleições presidenciais na Argentina. Por se tratar de nosso maior parceiro comercial regional e terceiro maior em nível global, o seu destino político muito nos interessa. Os candidatos com mais apoio popular são o atual presidente Maurício Macri, de centro-direita, que busca sua reeleição, e Alberto Fernández, de centro-esquerda, considerado o favorito, e que possui como candidata a vice em sua chapa a ex-presidente Cristina Kirchner.

Embora tenha sido eleito com propostas de reformas e postura pró-mercado, Macri não conseguiu o apoio político necessário para a realização de reformas profundas, que pudessem colocar o orçamento do governo argentino em ordem. A fragilidade fiscal acompanha o país há décadas, prova disso foram os sucessivos aportes de recursos do FMI para ajudar o governo a honrar compromissos. As poucas reformas aprovadas por Macri foram muito tímidas frente ao desafio apresentado pela economia argentina. O presidente chega ao término do seu mandato com o país enfrentando uma inflação anual beirando os 50%, desemprego de 10%, aumento da pobreza e previsão de queda do PIB. A desaprovação do governo beira os 82%.

As eleições primárias de agosto foram o principal termômetro para a avaliação do momento político argentino. Naquele pleito, Fernández recebeu 47% dos votos contra 32% recebidos por Macri, numa margem que aponta uma possível vitória da oposição em primeiro turno no pleito de hoje.

O grande descontentamento popular se deve ao fracasso na recuperação econômica argentina. Acostumados com um Estado que concede subsídios diversos, que protege em excesso a economia, que busca manter controle sobre o câmbio devido a uma economia altamente dolarizada, os argentinos não se mostram dispostos a fazer o sacrifício necessário para que reformas estruturais profundas sejam feitas para arrumar a casa! Ao contrário da maioria dos brasileiros, que foram às ruas pedir a aprovação de uma dura reforma no sistema previdenciário, que atacou privilégios e exigiu que todos pagassem um preço em maior ou menor grau, os argentinos não se mostram dispostos a pagar o preço necessário para que mudanças ocorram, e isto não se limita ao cidadão comum, as corporações econômicas e políticas também se mostram contrárias às mudanças no status quo. A falta de força política do presidente Macri para enfrentar esta resistência foi o principal motivo do fracasso de seu plano de governo.

A questão agora é saber o que acontecerá com a Argentina daqui pra frente. O retrospecto recente é preocupante, pois o país esteve em moratória e se mostra disposto a continuar insistindo em políticas econômicas já comprovadamente fracassadas. Junte-se a isto o perfil populista da chapa peronista de centro-esquerda Fernández-Kirchner e a preocupação aumenta ainda mais. Em seus oito anos de governo, Cristina Kirchner aumentou o controle sobre a moeda, manteve o país em dívida, falsificou dados econômicos, além de promover censura a órgãos de imprensa. A grande dúvida é: qual será o papel de Cristina Kirchner caso a chapa com Fernández vença as eleições? Seria ela a verdadeira governante enquanto ele seria apenas um fantoche? Ele tem a força política necessária para se impôr como governante e impedir que Cristina extrapole suas atribuições como vice-presidente? Mesmo sendo considerado um homem pragmático, conseguiria Fernández executar seu plano de governo, que prevê medidas de ajuste menos severas que as realmente necessárias, mas longe das medidas populistas típicas do peronismo?

Uma coisa é certa: ainda não é possível ter certeza sobre nada! Nem mesmo sobre a vitória da chapa Fernández-Kirchner, já que nos últimos dias, depois de intensa maratona de comícios pelo país, Macri diminuiu um pouco a vantagem de seus oponentes. Temos que considerar também a influência que os protestos que estão ocorrendo em vários países latino-americanos terão sobre a opinião pública argentina. Este pode ser um fator determinante para que Macri consiga diminuir a vantagem de seus adversários, levando o pleito ao segundo turno.

Para nós brasileiros, às vezes pode ser difícil num primeiro momento, compreender o que ocorre na Argentina. "Como eles podem querer a volta de alguém que destruiu o país?", se perguntam muitos brasileiros, comparando a volta de Kirchner ao poder com uma hipotética volta do PT no Brasil. Não considero que seja uma comparação descabida. Mas a resposta a esta questão está na arraigada mentalidade do povo argentino, que viveu décadas sob o governo populista peronista, que adorava garantir benefícios à população, mesmo que isto custasse a quebra das finanças públicas. É muito difícil para eles compreender que, sem sacrificar benefícios pessoais, sem diminuir a dependência de benefícios estatais, tanto para indivíduos como para setores econômicos, sem diminuir o tamanho do endividado Estado argentino, qualquer medida adotada será paliativa, remediando os efeitos sem atacar diretamente as causas dos problemas.

É triste ver o que políticas populistas irresponsáveis e inconsequentes fazem com uma nação. A Argentina já foi o país mais rico e próspero da América Latina, com uma população que vivia com padrão de vida europeu. Décadas de irresponsabilidade porém, levaram o país a uma situação na qual o governo não dispõe dos recursos necessários para garantir todos os benefícios sociais garantidos à população. A intervenção estatal na economia aprofundou a fragilização do país, que se tornou altamente dependente de recursos externos para fechar as suas contas públicas e ficou extremamente vulnerável às oscilações cambiais.

Os argentinos precisam despertar para a necessidade de mudanças profundas, sabendo que tais mudanças exigirão sacrifícios, que serão cada vez maiores à medida que se demore mais em mudar. A Argentina precisa de uma quebra de paradigmas. Só assim conseguirá seguir em uma direção que a afastará de sucessivos desastres. Já ficou mais que comprovado que as medidas populistas não funcionam e é o próprio povo quem sempre paga a conta dos fracassos. Espero que nossos hermanos já tenham aprendido a lição. Devem entender também que certos problemas não são solucionados da noite para o dia, sendo preciso exercitar a paciência e a perseverança que são necessárias para que se possa desfrutar dos resultados das reformas.

Isto deve servir de lição também para nós, brasileiros. Devemos diminuir a nossa dependência do Estado, diminuir o seu tamanho, dar mais liberdade econômica aos indivíduos e empresas, para que gerem riqueza para si e para a sociedade. Devemos trabalhar para evitar que qualquer governo que flerte com o populismo e com o estatismo volte ao poder. Esta deveria ser a luta da Argentina também. Boa sorte aos argentinos, que Deus os ilumine na hora do voto!

Comentários

  1. Muito pertinente o texto. A observância da situação política e econômica na Argentina, nos serve muito como reflexão.

    ResponderExcluir
  2. Bom dia Sander, aqui é o Pequi, ótimo texto, já tive um patrão argentino, que me contava a real deles, não oq o jornal Clárin ( A Folha de S.P deles) verdade oq vc postou, muitos não sabem, mas a Argentina é muito rica, quase todo mundo necessita do TRIGO, eles abastecem quase todo planeta, como outras matérias primas, devido ao seu clima europeu dentro da América latina, sobre cortar despesas, eles também cortaram e muito, mais que o Brasil nas últimas décadas, só que o Brasil é muito mais rico, e o saque que o PT fez foi com dinheiro gerado internamente, no caso deles a Cristina Kirchner saqueou dinheiro que foi emprestado e o rombo com o FMI fui gigantesco, parabéns pelo post amigo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado amigo, por ler e comentar! Muito pertinente as suas observações!

      Excluir

Postar um comentário

Comentários ofensivos serão excluídos!

Postagens mais visitadas deste blog

A prisão de Roberto Jefferson

Sejam Bem-vindos!

A demissão de Sérgio Moro