Sobre as manifestações convocadas para o dia 26/05/2019



As pessoas tem todo o direito de se manifestar, de expressar suas opiniões e de cobrar que os políticos que os representam ajam de acordo com os interesses daqueles que os escolheram. Ponto. Isto não está e nem deveria mesmo estar em discussão, porque faz parte da vida cívica de qualquer país democrático. Sou um democrata, um conservador e como tal, acredito que este tipo de manifestação é uma das ferramentas previstas nas regras do jogo para alcançarmos as mudanças desejadas. Se as pessoas querem se manifestar e querem expressar seu apoio ao Presidente da República, eleito por elas, têm todo o direito, que deve ser respeitado. Não serei eu a me manifestar contrário à realização destas manifestações convocadas para o dia 26 de Maio de 2019.

Quem segue meu blog já deve ter lido as minhas opiniões sobre o governo Bolsonaro. Sempre apoiei e continuarei apoiando as medidas implementadas pelo governo, tais como a Reforma da Previdência, Lei Anticrimes, Lei Antifraudes no INSS, Reforma Administrativa, privatizações de portos, aeroportos e ferrovias. Acho que estas medidas são corretas e bem vindas e são necessárias para garantir um crescimento econômico sustentável, que garante investimentos e gera empregos. E também critiquei o que acreditei que deveria ser criticado. Também tenho o direito de expor minhas opiniões. E tenho o direito de mudar de ideia sempre que eu obtiver novas informações sobre um assunto. O que escrevo agora é a minha opinião neste momento.

Mesmo que a pauta das manifestações seja algo do tipo "Vamos fechar o Congresso" ou "Vamos fechar o STF", não ficarei contra as manifestações, porque acredito que o direito à Liberdade de Expressão permite que aqueles que defendem estas pautas também possam se expressar. Mas existe uma diferença entre apoiar o direito de se expressar favorável a estas pautas, e apoiar as pautas em si. Eu não sou favorável ao fechamento nem do Congresso Nacional e nem do Supremo Tribunal Federal porque, como conservador, não posso apoiar o rompimento institucional do país e nem apoiar a violação dos mandatos parlamentares que foram concedidos pelo voto popular. Neste ponto, alguém poderia afirmar que, já que foi o povo quem concedeu o poder através do voto, então o povo tem o direito de cassar este poder concedido, quando achar que os políticos não estão agindo de acordo com os interesses dos seus eleitores. Porém a nossa Constituição não prevê que as coisas sejam feitas desta maneira.

Mas as coisas não são assim tão simples. A atual legislatura tomou posse em 1º de Fevereiro, ou seja, a pouco mais de três meses. Neste curto espaço de tempo, tem muitos parlamentares fazendo um bom trabalho, propondo bons projetos para o país e trabalhando para a aprovação dos projetos enviados pelo Executivo. Porém, com a demonização da política, feita desde o início do governo Bolsonaro, as dificuldades foram crescendo, porque o governo se mostrou incapaz de dialogar com o Congresso. Existe fisiologismo no Congresso? Sim, existe! Seria possível vencer o fisiologismo e aprovar as reformas sem a velha prática do toma-lá-dá-cá? Seria difícil, mas não impossível, desde que o governo agisse como um time. Além da falta de diálogo com o Congresso, o governo não possui uma base parlamentar unida, e até os membros do próprio partido do presidente vivem trocando farpas públicas, que só mostram o quanto o governo está fragilizado em relação a sua própria equipe. Esta fragilidade não afeta em nada a legitimidade do governo, nem o fato de que o presidente possui o respaldo de 57 milhões de votos. Mas não podemos nos esquecer que os congressistas também foram eleitos pelo povo! E acho injusto julgar todo o Congresso, sem levar em conta o trabalho daqueles que desde o início se esforçaram em honrar seu compromisso com seus eleitores.

Medidas importantes como a Reforma Administrativa e as medidas Antifraudes no INSS devem ser votadas até 3 de Junho ou caducam, perdendo a validade. Já escrevi aqui antes, que se a Reforma Administrativa não for aprovada, o governo voltará a ter os 29 ministérios do governo Temer. E mesmo com o prazo prestes a expirar, não vejo o governo se empenhando em reverter a situação, buscando trabalhar mais intensamente com o Congresso, para conseguir aprovar as medidas dentro do prazo. Fica assim a impressão que o governo quer mesmo é que as medidas caduquem, só para poder jogar toda a culpa da sua incapacidade no Congresso, dizendo que este agiu de má fé. As manifestações visam colocar pressão sobre o Congresso e os parlamentares, para que estes aprovem os projetos do governo, mas isto só mostra que o governo está transferindo para o povo uma responsabilidade que é sua e que  o próprio povo lhe conferiu!

Minha preocupação é o que pode acontecer depois das manifestações. E se, mesmo com o povo nas ruas cobrando a aprovação das medidas, muitas não forem aprovadas a tempo e perderem a validade, o que o governo pretende fazer? Vai apenas jogar a culpa no Congresso, assumindo o papel de vítima, dizendo que fez a sua parte, mas o Congresso não ajudou? E depois, será que o presidente e grupos dentro do governo pretendem usar isto como pretexto para um autogolpe, fechando o Congresso? Afinal, segundo a carta compartilhada pelo presidente, o Congresso torna o Brasil ingovernável. E se as manifestações forem um fracasso? Eu não acredito em nenhum tipo de golpe, mas a situação dá o que pensar!

O governo deve governar. E governar exige diálogo, porque o governo atua sobre o conjunto da sociedade. O presidente governa também para aqueles que não votaram nele, e não pode ignorar a voz destes. O governo deve buscar unificar seus membros e colaboradores, com todos trabalhando com um mesmo objetivo. O governo precisa de sintonia. Tem que ter um esforço sincero para acabar com o fogo amigo. E tem que ter um esforço sincero, inclusive por parte dos defensores do governo, de conviver com as divergências de ideias. Esperar que todos pensem de forma igual ou forçar as pessoas pertencentes à Direita a pensar todos da mesma forma, é prática contrária à Democracia. Somente em regimes totalitários a patrulha ideológica atua de forma a identificar quem pensa diferente. O linchamento virtual promovido por milícias digitais que muitas pessoas vêm sofrendo é antidemocrático, é pratica que inibe o direito e a Liberdade de Expressão. A sociedade tem o direito de ter pluralidade de ideias. Tentar impedir a livre manifestação destas ideias é um erro.

Que as pessoas se manifestem de forma ordeira, como sempre fizeram, e que exponham suas vontades e suas frustrações. E que o governo não fique de braços cruzados, esperando que o povo resolva os problemas para os quais o governo foi eleito para resolver! Este é o trabalho do governo! O governo tem suas responsabilidades, e com ou sem manifestações, deve trabalhar com afinco para defender no parlamento as suas medidas. Não será fácil! Mas quem disse que governar um país do tamanho do Brasil seria fácil?

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