Desgoverno Bolsonaro II

Constituição de 1988
A arma dos defensores da democracia brasileira


No meu post anterior, critiquei de forma dura o governo Bolsonaro. Um grande amigo meu que leu o texto, disse que peguei pesado nas críticas. Até cheguei a me arrepender do que escrevi, pensando que realmente tinha exagerado nas críticas. Mas as minhas palavras não foram escritas sem uma razão. Elas refletem o que eu estava sentindo naquele momento, e se parecem extremamente agressivas, é porque a minha revolta atingiu um patamar gigantesco! E a minha revolta é a soma da minha expectativa com a minha frustração. Não dizem que quanto maior a expectativa, maior é a frustração? Então imaginem o resultado da soma destes dois fatores e vocês entenderão o que estou sentindo em relação ao governo. Frustração porque o governo estava com a faca e o queijo nas mãos, tinha tudo pra ter um bom início e este era para ser o ano da virada, um divisor de águas, e a revolta porque a oportunidade, e o ano de 2019, fora perdidos por bobeira, negligência e incompetência.

E quando estou prestes a escrever um post com um mea culpa, eis que nosso presidente surpreende a todos divulgando em redes sociais  o conteúdo de uma carta de autor a princípio desconhecido. Eu li integra da carta, e naquele momento percebi que o nosso digníssimo presidente me dava todos os motivos para não me arrepender de nada do que escrevi! É duro pra mim ter que constatar que o candidato a quem dei o meu voto é um irresponsável, que flerta fortemente com o autoritarismo. Sou de Direita, sou conservador, e por isso sou contra qualquer tipo de ruptura institucional e sou contra as falácias que pregam o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Um conservador defende a conservação das Instituições, que são os pilares da nossa democracia. Ninguém pode acreditar que pode existir uma democracia verdadeira sem o Poder Legislativo e sem o Poder Judiciário. E se alguém acha que o Poder Executivo deveria se  sobrepor aos outros dois e controlá-los, digo que pensem bem, pois é exatamente isto que um regime ditatorial faz e eu não apoiarei algo deste tipo!

O presidente tentou, ao expor o conteúdo daquela carta, justificar o fracasso da tal nova política que tentou implementar sem sucesso. Quero aqui deixar claro que, na minha irrelevante opinião, a nova política seria aquela na qual se buscaria, através do diálogo entre os agentes públicos envolvidos, o consenso necessário para a aprovação dos projetos necessários para o avanço do país. Mas a nova política do presidente Bolsonaro não tem nada a ver com este meu conceito pessoal, pois para ele, a nova política consiste em dois pontos apenas, o Executivo cria os projetos e o Legislativo os aprova. Jogou toda a culpa do fracasso na articulação política, do fracasso em propor um projeto de governo de médio e longo prazo, fracasso na comunicação interna e externa, no Congresso Nacional,  no Judiciário, nos militares e nas corporações, que estariam mancomunados para impedi-lo de governar o Brasil. Sim, os malvadões não permitem que o capitão salvador da pátria atue em favor dos pobres e oprimidos do nosso país! Se existem problemas em nossas instituições, precisamos corrigi-los, e a democracia nos fornece os meios para isto.

A carta deixa várias coisas claras, entre elas que o Brasil não é um país para principiantes, que a corrupção está tão arraigada que é impossível para alguém fazer política sem se vender, que nunca seremos um país desenvolvido porque não interessa ao establishment, e que só alguém com a coragem e o poder de enfrentar o Legislativo, o Judiciário e as corporações pode ser bem sucedido no governo do país. Concordo que o Brasil não é um país para principiantes, no que se refere a governá-lo, e por isso eu votei em Bolsonaro com ressalvas, pois não achava que ele tivesse a capacidade necessária para enfrentar os nossos diversos problemas. E a cada dia que passa, constato que infelizmente eu estava certo, e eu não fico nem um pouco feliz com isto. Também concordo que a corrupção está profundamente arraigada em nossa sociedade, não apenas na classe política, mas não acho impossível que alguém faça política sem se vender, tenho certeza que existe gente séria e honesta trabalhando duro na política! Não concordo com a ideia de que nunca seremos um país desenvolvido porque o establishment não quer, porque na carta esta ideia está atrelada à necessidade das corporações terem acesso ao orçamento do governo para satisfazer os seus interesses. Eu sei que existe corrupção e entidades que buscam se beneficiar dos recursos públicos, em detrimento das necessidades do país, mas nossa democracia nos fornece todas as ferramentas necessárias para combatê-las, a Lava-Jato e o desmantelamento do departamento de operações estruturadas da Odebrecht, no caso do petrolão, são provas disto! São ferramentas que podem e devem ser aperfeiçoadas, mas jamais descartadas! E aqui vem o ponto que considero o mais importante, pois esta história de que só um salvador da pátria pode nos defender das maldades do Congresso e do STF não passa de pretexto para justificar atitudes autoritárias e uma tentativa retórica de angariar o apoio da população para atos extremos contra a democracia.

Não acredito que possa haver um golpe de estado ou um auto-golpe, mas não acho que estas hipóteses sejam impossíveis de se tornarem realidade. Desde a campanha eleitoral, Bolsonaro claramente se colocou como a única alternativa viável contra tudo o que está aí, como o único capaz de colocar o Congresso, o Judiciário, e as corporações em seus devidos lugares e diante dos fracassos colhidos até aqui, será que teria a coragem de dar um passo adiante, eliminando estes obstáculos ao seu governo? Não quero acreditar que isto possa ser possível. Por mais defeitos que Bolsonaro tenha, não posso crer que seria capaz de atentar contra nossa democracia e contra  o Estado de Direito e nossa Constituição desta forma.

A divulgação da carta foi um erro grotesco. Menosprezar a importância das manifestações desta semana é outro erro. A líder do governo no Congresso batendo boca via Twitter com uma deputada federal do partido do presidente é um exemplo claro da auto-sabotagem que eu critiquei no post anterior. As coisas chegaram a um ponto em que se voltou a falar abertamente em possíveis crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente e em impeachment. Acho que ainda dá tempo de salvar o governo e apagar estes incêndios, mas será necessário um trabalho pesado, a ser realizado por uma equipe coesa, trabalhando com um foco comum, num único objetivo. Será que o presidente consegue reunir sua equipe e liderá-la na direção correta? Será necessário também buscar uma sintonia sincera com o Congresso. Bolsonaro deve se lembrar que ele não é o único a ter sido eleito, os parlamentares também receberam votos, que  garantem a eles o mesmo respaldo popular desfrutado pelo presidente. Todos, presidente, vice-presidente, deputados e senadores, são nossos representantes, eleitos para cuidar dos nossos interesses! 

Tem muita gente séria no governo, trabalhando arduamente para que o Brasil melhore! Por isso ainda tenho esperanças que as coisas possam se ajeitar. Mas o governo precisa olhar para dentro de si, fazer um balanço geral, uma autocrítica, corrigir os erros, expurgar os membros que estejam comprometendo a qualidade do trabalho e a coerência da equipe, Melhorar a comunicação, trabalhar para a aprovação das medidas paradas no Congresso que estão para caducar. Não sei a que o presidente se referia quando previu um tsunami para esta semana, mas que fomos atingidos por um abalo institucional digno de uma onda gigante, isso fomos, sem dúvida nenhuma. Mas é o momento de nos refazer do choque e trabalhar duro, para construir o futuro que queremos para o nosso Brasil. Que Deus nos ajude!

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