Olavo de Carvalho X Militares

General Carlos Alberto Santos Cruz
Ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República

As brigas envolvendo Olavo de Carvalho, influenciador ideológico de Direita, que possui grande influência sobre a família Bolsonaro e muitos de seus apoiadores, e os militares que integram o governo ganhou um novo capítulo. Os ataques de Olavo ocorreram inicialmente contra o vice-presidente da República general Hamilton Mourão, a quem acusou de ser traidor e golpista. O alvo da vez é o general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República.

Dois episódios envolvendo Santos Cruz foram motivos para os ataques. O primeiro episódio envolve uma entrevista que Santos Cruz concedeu à jornalista Vera Magalhães, da rádio Jovem Pan, no início de Abril. A entrevista não repercutiu de imediato, mas quase um mês depois, uma fala de Santos Cruz, sobre as redes sociais,  foi o estopim das críticas e ataques. O ministro havia dito: "Pode até ser um instrumento de governo para divulgação de algumas ideias, de alguns projetos, mas tem que ser utilizada com muito cuidado, para evitar distorções, e que vire arma nas mãos dos grupos radicais, sejam eles de uma ponta ou de outra. Tem de ser disciplinado, até a legislação tem de ser aprimorada, e as pessoas de bom senso têm de atuar mais para chamar as pessoas à consciência de que a gente precisa dialogar mais, e não brigar."

As críticas vieram dos grupos ligados a Olavo de Carvalho, grupos mais ideológicos, que enxergam no fato do presidente ter sido eleito com o apoio obtido através das redes sociais um motivo forte para criticar qualquer um que queira limitar ou mudar o uso governamental das redes sociais.

Após a repercussão das críticas ao ministro, o próprio presidente Jair Bolsonaro foi às redes sociais e escreveu: "Em meu Governo a chama da democracia será mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluída as sociais. Quem achar o contrário recomendo um estágio na Coréia do Norte ou Cuba". Ficou claro que o presidente se referia à fala de Santos Cruz, embora o presidente não tenha citado seu nome.

O segundo episódio ocorreu após a nomeação do contra-almirante da Marinha, Ricardo Segóvia Barbosa, para a presidência da APEX, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. Logo após tomar posse, Segóvia demitiu Letícia Catelani, da Diretoria de Negócios da APEX. Ao ser demitida, Catelani afirmou que se tratava de represália, por ter se recusado a renovar "contratos espúrios" assinados em gestões anteriores. Uma mensagem enviada  a ela no final de março, pelo general Roberto Escoto, chefe de gabinete do embaixador Mario Vilalva, então presidente da APEX, e que foi divulgada em grupos de WhatsApp de apoiadores de Olavo de Carvalho, informava que ela deveria renovar o convênio com o Sindicato da Indústria de Audiovisual de SP, por determinação de Santos Cruz, decisão que bate de frente com o núcleo ideológico do governo.

Olavo de Carvalho criticou Santos Cruz, chamando-o de "politiqueiro de merda", "um nada" e dizendo que ele quer "controlar a internet", além de o acusar de tráfico de influência. Os ataques de Olavo geraram manifestações a seu favor e também contrárias, vindas de apoiadores de Bolsonaro. E muitos se manifestaram a favor de Santos Cruz também, e o debate atingiu tal ponto que o presidente Bolsonaro escreveu em seu Twitter: "Não existe grupo de militares nem grupo de olavos aqui. Tudo é um time só".

Mas as críticas mais severas contra Olavo vieram do general Villas-Boas, ex-comandante do Exército e atualmente integrante do Gabinete de Segurança Institucional, que afirmou que Olavo "vive em um vazio institucional",  que "age no sentido de acentuar as divergências" e ele seria o "Trotsky da Direita". Olavo de Carvalho, na troca de farpas e insultos, acabou tuitando que os militares do governo, não conseguindo responder as suas críticas, se escondem atrás de "um doente preso a uma cadeira de rodas". Tal declaração acirrou ainda mais as críticas contra o próprio Olavo. Eu achei tal declaração simplesmente inaceitável!

Não dá pra saber onde isto tudo vai parar e nem quando esta briga entre olavetes e militares vai terminar. O que mais me intriga é que todos fazem parte do mesmo governo! Olavo de Carvalho já disse certa vez que não apoia Bolsonaro, apenas votou em Bolsonaro, o que tem muita diferença! Porém, suas opiniões tem um peso muito grande junto a um grupo considerável de pessoas que estão no governo, inclusive suas opiniões influenciam os filhos do presidente Bolsonaro e o próprio presidente já explicitou sua admiração pelo filósofo. Todos sabemos que Olavo de Carvalho, influenciou a escolha dos ministros da Educação e das Relações Exteriores. Os chamados olavetes formam um grupo ideológico, que tem como objetivo  eliminar, a todo custo, toda e qualquer influencia da Esquerda, e por isso muitas vezes batem de frente com os militares porque estes são muito mais técnicos do que ideológicos, e os olavetes os criticam por não agir de forma mais incisiva para eliminar quaisquer resquícios de políticas esquerdistas presentes no governo. Mas independente disto, fazem parte de um mesmo governo, e não vejo como os comentários de Olavo de Carvalho, possam contribuir para que os projetos prioritários do governo sejam aprovados e implantados. E chega a ser ultrajante que membros do governo critiquem outros membros apenas por estes serem mais técnicos em seus critérios de decisão!

O que vejo é uma continuação da velha história do nós contra eles! Sou de Direita, Conservador-Liberal, também concordo que muitas políticas públicas implantadas pelos governos de esquerda precisam ser revogadas, mas não apenas porque são de esquerda, mas porque são políticas nocivas à nossa sociedade, de várias formas. Não concordo com uma sociedade que permite apenas uma ideologia, porque acredito que esta é uma postura de regimes como o da Coréia do Norte, ou seja, uma sociedade onde só há uma ideologia, é uma sociedade onde não há liberdade de escolha e onde os cidadãos não podem pensar livremente, já que o Estado dirá como se deve pensar! A pluralidade de ideias é importante para que a sociedade evolua, e o debate sadio só é possível quando as pessoas exercem a tolerância necessária para o convívio entre indivíduos que pensam diferente. Mas como construir uma sociedade tolerante e amante de um debate saudável e plural, se os membros do governo que deveria trabalhar nesta construção brigam entre si? Esta briga é politicamente infantil e não nos ajudará, enquanto nação, em absolutamente nada! Acho que podemos aproveitar esta oportunidade para crescer e subir o nível do debate político no nosso país!



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