As trocas de farpas entre Bolsonaro e Rodrigo Maia

Presidente da República Jair Bolsonaro e o Presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia

Temos acompanhado, durante as últimas semanas, ou melhor, desde que a Proposta de Reforma da Previdência Social foi entregue pelo presidente Jair Bolsonaro para a análise do Congresso Nacional, uma troca de farpas entre o presidente Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo Maia. O grande motivo por trás destas trocas de farpas, que foi crescendo até gerar um mal estar institucional, foi a falta de ação do governo, e do presidente Bolsonaro, em relação à articulação política junto aos congressistas, necessária para que a Reforma da Previdência possa ser analisada e aprovada pelo Congresso Nacional, mantendo as características mínimas necessárias para que a economia de recursos alcançada com a reforma, não fique muito abaixo dos R$ 1 trilhão previstos na proposta formulada pela equipe liderada pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes.

O grande problema é a insistência do presidente Jair Bolsonaro de se recusar a articular politicamente, para que  se obtenha a maioria parlamentar necessária para que a proposta de reforma da previdência seja aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Além disto, o presidente insiste com sua ideia de nova política, considerando qualquer forma de negociação com o congresso como um toma-lá-dá-cá ilegal, que tem de ser evitado e combatido. O ponto de vista do presidente foi compartilhado em suas redes sociais, com o presidente dando declarações irônicas, como aquela em que ele pergunta "o que é articulação?". Tudo isso foi compartilhado pelos seus seguidores nas redes sociais, gerando intenso debate sobre a questão da articulação política.

O presidente Bolsonaro deixou claro que, para ele, a parte que lhe cabia, que era encaminhar a proposta ao Congresso, estava feita. Na visão do presidente, tudo agora dependia apenas do Congresso. Obviamente, isto não é verdade! As tensões entre o presidente Bolsonaro e o deputado Rodrigo Maia, desde sempre um apoiador da proposta de reforma da previdência, foram crescendo ao longo das últimas semanas, chegando ao pior nível na última semana, com o presidente da Câmara chegando ao ponto de querer desistir de fazer qualquer esforço  pela aprovação da reforma. Vale lembrar aqui, que até então, Rodrigo Maia vinha trabalhando intensamente junto aos seus pares, conversando, realizando almoços e jantares em sua residência, onde recebia membros do parlamento, para tentar convencê-los a aprovar a reforma apresentada pelo governo. Esta articulação toda que Rodrigo Maia vinha fazendo era tarefa ou obrigação sua? A resposta é um sonoro não!

Claro que o apoio do presidente da Câmara dos Deputados conta muito! Cabe a ele pautar a proposta de reforma da previdência para ser votada. Além disto, sua influência junto aos deputados pode ser benéfica ao governo, pois Maia foi eleito presidente da Câmara por ampla maioria, tendo recebido votos até mesmo de partidos de esquerda. Mas isso não quer dizer que toda a tarefa de angariar votos deve ficar sob sua responsabilidade.

Todo este problema envolvendo a falta de articulação política do governo Bolsonaro acabou resultando em uma grande perda de tempo. Um mês após ter sido recebida pelo Congresso, a proposta ainda não foi analisada pela CCJ, a Comissão de Constituição e Justiça, da Câmara dos Deputados, que é a primeira das várias comissões por onde deverá tramitar a proposta de reforma da previdência, antes de ser encaminhada para votação em plenário. O presidente da CCJ, deputado Felipe Franceschini (PSL-PR), ainda nem sequer tinha escolhido o relator da proposta!

Todos estes problemas acabam por evidenciar algo que eu sempre temi, o despreparo do presidente Bolsonaro para encarar os desafios da Presidência da República. Nunca escondi de ninguém que votei no Bolsonaro, no segundo turno, com ressalvas, já que jamais votaria em um candidato do PT e nem anularia o meu voto. Eu não ficaria quatro horas em pé em uma fila para chegar na hora de votar simplesmente votar em branco ou anular meu voto. Tenho consciência da importância do voto e da minha responsabilidade, como cidadão, de participar do processo político do meu país. Por isto, todos estes acontecimentos me deixam muito preocupado! O Presidente Bolsonaro, com suas atitudes, acabou por queimar o seu capital político, e por abreviar a famosa lua-de-mel que os presidentes recém empossados costumam desfrutar com a opinião pública.

Vimos a aprovação do presidente cair, o alcance das suas lives semanais diminuir, vimos a Bolsa de Valores de São Paulo, que tinha atingido o seu recorde histórico rompendo a barreira dos cem mil pontos, levar um tombo, recuando para o patamar em torno dos 92 mil pontos. E também, a alta da cotação do dólar frente ao real, batendo os R$ 4 reais. Muitas pessoas votaram em Bolsonaro esperando que ele realizasse em pouco tempo um verdadeiro milagre, resolvendo todos os problemas estruturais brasileiros com um passe de mágica. Agora todos estão tendo que voltar à realidade. Até mesmo o presidente Bolsonaro, que tratou, nos últimos dias, de tentar uma atitude mais conciliadora junto a Rodrigo Maia. O ministro Paulo Guedes também tem se colocado a disposição do Congresso para conversar e tirar dúvidas dos parlamentares.

O presidente da CCJ, finalmente, nomeou o relator da Proposta de Reforma da Previdência Social, que será o deputado federal Marcelo Freitas. O recém definido relator já prometeu que emitirá o seu parecer até o dia 9 de Abril, e que espera que o texto da reforma seja aprovado pela Câmara até o final do primeiro semestre deste ano. Outro fator importante foi o fato de o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, que estava dividido quanto a questão da reforma da previdência, ter fechado questão sobre o assunto, se posicionando oficialmente como apoiador da reforma. Esta decisão cala os que estão contra a reforma, tirando deles o argumento que usavam, apontando que, se nem o partido do presidente está a favor da reforma, por que os demais partidos deveriam apoiá-la? Este argumento ruiu agora!

Enfim, parece que o governo entendeu, finalmente, que sua atitude era totalmente contraproducente! Vamos continuar acompanhando o desenrolar dos fatos! 

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