Dizer que o Brasil é um país de contrastes, é chover no molhado! Todo mundo sabe que temos muitos contrastes em nosso país, alguém até já cunhou o termo Belíndia para se referir ao Brasil, um país com impostos belgas e qualidade de vida da Índia. Mas quero tratar hoje de outros contrastes!
Somos um país que construiu uma nova capital, no meio do nada, totalmente planejada, exemplo mundial de arquitetura moderna e planejamento urbano, com toda a infraestrutura urbana necessária para a vida diária, em tempo recorde, e ao mesmo tempo, nossas cidades estão cheias de favelas, exemplo claro da falta de planejamento urbano que culmina num crescimento desordenado, onde impera a carência total de infraestrutura urbana básica!
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Superquadras em Brasília |
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Favela em Salvador |
Somos um país que construiu uma das maiores barragens do mundo, na usina hidrelétrica de Itaipu, com aproximadamente 7 quilômetros de comprimento e 196 metros de altura na seção principal, o que equivale a altura de um prédio de 65 andares e vimos com assombro duas barragens de dejetos de mineração ruírem por terem sido construídas com a própria lama que deveriam represar, causando tragédias humanitárias e ambientais!
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Brumadinho, MG |
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Usina Hidrelétrica de Itaipu |
Somo s um país que possui uma das maiores metrópoles do planeta, que construiu uma ponte estaiada arrojada, único exemplo de ponte estaiada com cruzamento de pistas existente no mundo, com design tão diferente que logo se tornou um cartão postal e na mesma cidade um viaduto cedeu e outro precisou ser interditado às pressas por falta de manutenção!
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Ponte Estaiada, São Paulo |
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Viaduto cede na Marginal do Rio Pinheiros, em São Paulo |
Somos um país que constrói um museu para incentivar as pessoas a pensarem o futuro do país, mas que não se preocupa com a preservação do seu passado, permitindo que um dos seus principais e mais antigos museus seja destruído por um incêndio causado pela total falta de investimentos na segurança patrimonial e pelo desleixo dos responsáveis pela sua administração!
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Museu do Amanhã, RJ |
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Museu Nacional, RJ |
Somos um país que constrói uma das mais longas pontes do mundo, com um vão central tão largo e tão alto que permite a passagem de grandes navios cargueiros por baixo dela, mas que é incapaz de construir uma ciclovia que não desabe e que seja segura aos seus usuários!
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Ponte Rio-Niterói |
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Ciclovia Tim Maia, RJ |
Afinal, por que temos, entre tantos contrastes, estes em particular? Acho que é uma questão de mentalidade! Os políticos e governantes tendem a dar prioridade a obras novas, adoram uma inauguração com muita pompa e holofotes, em detrimento de programas de conservação, manutenção e fiscalização, que não dão Ibope, já que ninguém vê nem é mostrada pela imprensa! Obras como, por exemplo, sistemas de coleta de esgotos, também são deixados de lado, por que ninguém vê os canos enterrados debaixo de metros de terra! Este tipo de obra não ajuda a angariar votos entre a população! Por isso essa tendência de se construir o novo sem cuidar do já existente!
Como cidadãos e eleitores, temos que despertar e passar a avaliar melhor o trabalho executado pelos nossos governantes! Precisamos aprender a cobrar pela realização de obras realmente necessárias, e pela manutenção e o cuidado das obras já entregues, pois cuidar do patrimônio público também é uma forma de se economizar os recursos públicos! O investimento em novas obras não é nocivo, desde que em obras realmente necessárias, mas não podemos simplesmente inaugurá-las e depois deixá-las abandonadas e sem a manutenção necessária!
Essa atitude de se negligenciar a manutenção e a fiscalização, abre espaço para um pensamento muito perigoso, que é o de cultivar o risco aceitável, ou seja, muitas vezes mesmo cientes do risco que a falta de manutenção traz, preferem correr este risco a investir os recursos necessários na conservação e manutenção, e até prevenção de desastres. Este pensamento, de aceitação do risco, não impera apenas entre os governantes e os políticos, mas também entre os cidadãos em geral, que muitas vezes aceitam habitar em locais de risco, onde podem ocorrer enchentes e desabamentos, alegando falta de alternativas, mas que claramente aceitam o risco de viver nestes lugares. Precisamos urgentemente mudar a nossa maneira de pensar e de enxergar o mundo! Nunca conseguiremos mudar o Brasil, se não mudarmos primeiro nosso modo de pensar! Mudando nossa forma de pensar, automaticamente nossas atitudes também mudam, e só com novas atitudes poderemos construir um novo país!
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