O polêmico discurso de Roberto Alvim

Ex-Secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim,
durante seu polêmico discurso

Na quinta-feira 16 de janeiro, o então secretário especial da Cultura Roberto Alvim publicou um vídeo institucional nas redes sociais da Secretaria Especial da Cultura, com o objetivo de anunciar a criação do Prêmio Nacional de Artes. Porém, o conteúdo do vídeo foi tão polêmico, que o anúncio do prêmio em si passou despercebido!

Ao som da ópera Lohengrin de Richard Wagner, Alvim fez o seu pronunciamento, onde a certa altura pronunciou a seguinte frase: "A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada". O problema é que esta frase é muito parecida com  uma frase proferida em um discurso por Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do regime nazista, responsável por incutir nas mentes alemãs, através das artes e da cultura, as ideias de superioridade racial e outros absurdos defendidos pelo terceiro reich de Adolf Hitler. 

Em seu discurso, reproduzido no livro Goebbels: a Biography de Peter Longerich, Goebbels disse: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada".  A semelhança é inegável.

Junte-se o texto à trilha sonora de Wagner, um compositor sabidamente admirado por Hitler, e ao cenário e tom adotado por Alvim e a fórmula para o desastre estará completa. A ópera Lohengrin escolhida por Alvim é inclusive citada por Hitler em seu livro Mein Kampf, onde o líder nazista relata o que sentiu ao assistir à opera pela primeira vez, aos doze anos de idade.

Quando as críticas começaram, Roberto Alvim alegou que tudo não passava de "coincidência retórica" e alegou não saber que a frase era do ministro nazista. Chegou a insinuar que poderia ser erro de assessores, alegando que o discurso não foi totalmente escrito por ele. Alvim tratou tudo como algo que aconteceu "sem querer"! Mas a repercussão negativa foi tão grande, com críticas vindas de todos os lados, que o presidente Jair Bolsonaro tomou a sábia decisão de exonerar Alvim, numa medida rápida e certeira.

Inicialmente eu não dei muita importância ao ocorrido, pois as primeiras informações que tive apenas davam conta que o secretário especial da cultura tinha sido exonerado por causa de um discurso polêmico. Mas, sejamos sinceros, quantos discursos e falas polêmicas já ocorreram no governo Bolsonaro? Vários né! Por isso no início não dei tanta atenção. Mas quando soube que a polêmica envolvendo o discurso era por causa de uma referência ao nazismo, aí minha atenção despertou e fui buscar mais informações. Foi quando assisti ao vídeo, com o pronunciamento. Inicialmente fiquei em dúvida se era mesmo Wagner ao fundo, mas logo pude confirmar que era mesmo uma obra do compositor alemão. E após ver o vídeo eu tive uma certeza: não podia ser acaso ou coincidência.

O que levou Roberto Alvim a usar este discurso e toda esta estética em seu vídeo, eu realmente não sei dizer. Mas realmente não acredito em acaso. Foi levantada a possibilidade de Alvim ter sido vítima de uma armadilha, que neste caso só poderia ter sido armada por assessores. Sabemos que as áreas da Educação e da Cultura são as únicas áreas onde o aparelhamento ideológico de esquerda foi bem sucedido, e que aqueles que trabalham nestas áreas estão num verdadeiro covil de leões. Nesta área, todo cuidado é pouco. Roberto Alvim não me parece ser uma pessoa ingênua, que não sabe das batalhas ideológicas que são travadas diariamente no front cultural. Sua postura quando ainda era diretor da FUNARTE corrobora esse meu conceito sobre ele. Por isso, embora eu não descarte a hipótese de armadilha, eu a considero a menos plausível. Pelo menos com as informações de que disponho neste momento. E se for mesmo uma armadilha, então deveria ser demitida toda a equipe, para cortar o mal pela raiz.

Não creio em acaso, nem em armadilhas. Tampouco estou acusando o ex-secretário de ser um apologista ou apoiador do nazismo. Me parece que ele não é ingênuo quanto à virulência ideológica esquerdista, mas nos julgou a todos como ingênuos. A impressão que tenho é esta: que ele sabia a origem da frase que usou, e julgou que ninguém seria capaz de identificá-la. Julgou que ninguém ligaria os pontos entre o discurso e a ópera de fundo e a estética do vídeo. Subestimou a nossa inteligência e a nossa cultura. Deve ter levado um belo susto quando percebeu que muita, mas muita gente mesmo, percebeu o que ele pensou que passaria batido.

Confesso aqui, que se eu lesse aquela frase em algum lugar, sem nenhuma referência ao autor, eu não saberia identificá-la como sendo de Goebbels. Como afirmei em um recente podcast que gravei para o site Vida Destra, mesmo conhecendo o ministro alemão, sabendo quais eram as suas atribuições e o que fez, não conheço suas palavras e discursos. Até porque, por ter sido quem foi, nunca tive interesse em conhecer mais a respeito dele. Mas o conteúdo em si e as ideias transmitidas pelo texto são ruins. Eu não apoiaria! E eu não sou o responsável por incentivar a cultura brasileira, como Alvim era. A propósito, se eu fosse o secretário e fosse gravar um vídeo para anunciar a criação do Prêmio Nacional de Artes, eu gravaria num cenário com algum quadro de algum conceituado pintor brasileiro como Portinari ou Di Cavalcanti, ou com um painel de Athos Bulcão, ou um vitral de Marianne Peretti, e ao invés de Wagner ao fundo, eu me pronunciaria ao som de uma das Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos. Afinal, o objetivo é incentivar a cultura nacional, certo?

A conceituadíssima atriz Regina Duarte foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro para ocupar o lugar de Roberto Alvim. Desconheço a capacidade administrativa dela, mas conheço o seu posicionamento político. E por ser alguém do meio artístico, que já foi vítima de perseguição e ataques ideológicos, já deve conhecer bem o ninho de cobras que é a área cultural. Creio que com o assessoramento correto poderá fazer um bom trabalho. Resta saber se aceitará. Até o momento em que escrevo este artigo, ela ainda não tinha dado uma resposta ao convite presidencial.

As áreas da Educação e da Cultura são duas áreas importantíssimas nessa guerra ideológica em que estamos todos metidos. Ninguém está imune às influências destas áreas. Todos somos afetados. O ministro Abraham Weintraub é um guerreiro, que está combatendo muito bem os problemas na área educacional. Agora precisamos de alguém para fazer o mesmo na área cultural. Vamos torcer para que este guerreiro ou guerreira venha logo, para colocar ordem na bagunça que fizeram com a nossa cultura!


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