A debandada no Ministério da Economia

Salim Mattar e Paulo Uebel

Nesta terça-feira 11 de agosto de 2020, fomos surpreendidos com os pedidos de demissão apresentados por Salim Mattar, secretário especial de Desestatização e Privatização, e por Paulo Uebel, secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital. Estas baixas, que o ministro da Economia Paulo Guedes chamou de "debandada", somam-se às de Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro, Caio Megale, ex-diretor de programas da Secretaria Especial de Fazenda e Rubem Novaes, ex-presidente do Banco do Brasil. Marcos Troyjo, ex-secretário especial de comércio exterior também deixou a equipe há pouco tempo, para presidir o novo banco de desenvolvimento dos BRICS.

Segundo informou Guedes, o pedido de demissão de Salim Mattar se deve à sua insatisfação com o ritmo das privatizações e da falta de vontade do establishment em privatizar. Em entrevistas, Mattar declarou manter o apoio ao governo e ao presidente, e creditou sua saída aos interesses políticos que não querem que as privatizações ocorram. Já no caso de Paulo Uebel, Paulo Guedes afirmou que o motivo alegado foi a falta de andamento da Reforma Administrativa, que vem sendo adiada desde o ano passado, e que trata de questões envolvendo o funcionalismo público.

Num primeiro momento, a notícia me causou preocupação, pois um desfalque desta magnitude no Ministério da Economia expõe ainda mais o ministro Paulo Guedes aos ataques da oposição, que há tempos buscam enfraquecê-lo. A "fritura" de Guedes por parte de políticos e da mídia se intensificou após a saída de Abraham Weintraub do comando do Ministério da Educação. Os motivos alegados para a saída de Mattar e Uebel ajudam a piorar a situação, já que contribuem para fortalecer as narrativas que circulam afirmando que o presidente Jair Bolsonaro abandonou completamente as pautas liberais, que se vendeu ao centrão e à velha política e que não dá mais atenção às promessas de campanha. Diante disso, temi que o ministro Paulo Guedes acabasse por sucumbir também e deixasse o governo, o que seria uma perda irreparável, não apenas para o governo em si, mas para a sociedade e tudo o que estamos lutando para construir.

Passado o temor inicial, e analisando com calma os acontecimentos, pude verificar que este episódio preocupante tem muito a nos ensinar. Primeiro, escancarou aquilo que já sabíamos: estamos em guerra contra o establishment! Segundo, e que muitos insistiam em ignorar, numa inocência fingida que é inaceitável numa guerra: boas intenções não bastam!

É óbvio que a oposição aos projetos do governo seria pesada! Creio que nenhum daqueles que embarcaram no governo, o fizeram ignorando que enfrentariam muitas dificuldades. Claro que, para aqueles que nunca atuaram na vida pública, tentar dimensionar o tamanho da artilharia que enfrentariam seria difícil. Foi o que aconteceu no caso de Salim Mattar. Acostumado com o ritmo de ação da iniciativa privada, onde é um empresário bem sucedido, não suportou o peso e a força da máquina do Estado, que se ergueu para impedir as privatizações, que poriam um fim às oportunidades políticas de ganhos financeiros e apadrinhamento político, minando muito do poder dos políticos. Isto resultou em ferrenha oposição, que nem o mais brilhante e bem intencionado discurso foi capaz de vencer! Os interesses do país e do povo, manifestados nas urnas através do voto, nada valem para os que detém o poder! Mattar tentou mas falhou em sua missão de reduzir o tamanho do Estado e de privatizar os diversos mastodontes que estão sob cuidados do governo! Mas que fique claro, não foi incompetência sua, creio que ele se viu num beco sem saída.

No caso de Uebel a situação foi semelhante. Diminuir a burocracia e racionalizar o funcionamento da máquina pública exige uma reforma profunda na estrutura do Estado e exige também enfrentar o funcionalismo público e tocar naquilo que lhes é mais sagrado: a estabilidade no emprego. Sabemos que nenhuma reforma será bem sucedida se o governo não tiver liberdade para gerenciar os seus próprios funcionários, demitindo aqueles que não estiverem exercendo suas funções dentro de padrões mínimos de competência. A alegação de Uebel, de que estava deixando o governo por falta de andamento da Reforma Administrativa, deixa no ar a dúvida: até onde vai o compromisso do governo com estas reformas?

O governo vem adiando a reforma administrativa, alegando estar aguardando um momento político mais oportuno. Mas, se olharmos para o Congresso Nacional, que é o grande entrave no andamentos das pautas governistas, veremos que é difícil imaginar que o clima político vá mudar, já que a maioria dos parlamentares tem mandato até 2022. Se os presidentes da Câmara e do Senado conseguirem alterar as regras e se reeleger, a situação política pode piorar! O que poderia ser feito pelo governo, e que ainda não foi feito nestes 20 meses, que levaria a uma mudança positiva no parlamento? Se nem mesmo com a recriação do Ministério das Comunicações e com a concessão de cargos a integrantes de partidos do centrão as coisas mudaram a favor do governo, acho difícil imaginar que algo mude sem que o governo tenha que ceder à velha política!

Tudo isto também expôs ainda mais o isolamento no qual colocaram o presidente Jair Bolsonaro. O presidente desfruta de grande apoio popular, quanto a isto não restam dúvidas, mas seus assessores criaram uma barreira que impede que o presidente tenha uma maior presença na vida dos ministérios e no diálogo com o Congresso. O presidente costuma usar a analogia do futebol, onde ele é o técnico e os ministros, os jogadores. Não gosto desta analogia, pois deixa todo o trabalho nas mãos dos ministros jogadores, enquanto o técnico presidente fica ao lado do campo apenas observando e dando ordens sem atuar diretamente! Prefiro a analogia da orquestra, onde o presidente seria o maestro e os ministros, os músicos! E ao contrário do técnico de futebol, o maestro se esforça tanto quanto os músicos! Cada músico segue a sua própria partitura, mas através do esforço do maestro, o trabalho individual se torna um e resulta em uma bela música!

É necessária uma mudança de postura do presidente Jair Bolsonaro. Já sabemos que ele cobra de forma firme os seus ministros, e precisa também apoiá-los, não apenas em conversas reservadas, mas de forma ostensiva, como fez com o ex-ministro Moro! Seus ministros defendem as pautas governistas com unhas e dentes e o presidente precisa dar todo o suporte, tanto material quanto moral, para que possam suportar tantos ataques e para evitar que novas baixas ocorram.

Não estou responsabilizando o presidente pelo que aconteceu, mas penso que num momento no qual o ministro Paulo Guedes enfrenta um problema desta magnitude, o presidente deve usar a sua autoridade política e moral para fortalecer Guedes e todos os demais ministros e colaboradores. É necessária uma mudança de postura de todo o governo. Em alguns casos o diálogo resolve, em outros só resolverá com concessões e trocas. Até onde ceder, eis a questão! Nossa política é suja demais! E o establishment já deixou claro que pretende emperrar qualquer reforma ou medida que vá contra os seus interesses. Nós eleitores podemos ajudar minando os inimigos nas eleições municipais deste ano, boicotando políticos que pertençam a partidos que estejam sabotando o governo, como o Democratas (DEM).

Espero que todos nós, sociedade civil, políticos governistas e integrantes do governo, possamos aprender com estas baixas para que não se repitam. Esta batalha, por hora, foi vencida pelo velho e corrompido establishment.


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