Eduardo Bolsonaro embaixador?

Deputado Federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)

Na última quinta-feira 11 de Julho, o presidente Jair Bolsonaro, durante conversa com jornalistas, revelou a sua intenção de nomear o seu filho Eduardo Bolsonaro, como embaixador do Brasil em Washington. A embaixada brasileira na capital americana está sem um embaixador há três meses, desde que o chanceler Ernesto Araújo afastou o embaixador Sérgio Amaral, a pedido do presidente Bolsonaro.

A possibilidade de indicar o deputado Eduardo Bolsonaro para ocupar a chefia da embaixada mais importante do Brasil, considerada o topo da carreira diplomática, gerou críticas vindas de todos os lados. Também há muita gente favorável à ideia, principalmente entre os seguidores do presidente e de seus familiares nas redes sociais, que defendem tudo o que o presidente faz e atacam todos aqueles que ousam criticá-lo.

Para justificar a indicação, o presidente Jair Bolsonaro alegou que seu filho fala inglês e espanhol, tem vivência no exterior, já fez intercâmbio nos Estados Unidos e desfruta da amizade dos filhos do presidente Donald Trump. O deputado Eduardo Bolsonaro disse se sentir capacitado para o cargo, por já ter morado nos Estados Unidos, onde fritou muito hambúrguer. Eduardo Bolsonaro foi o deputado federal eleito mais votado do Brasil no pleito de 2018, e provavelmente deverá renunciar ao seu mandato para assumir o cargo de embaixador, o que gera desconforto em muitos eleitores. Atualmente também é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.

Não vou ficar aqui baseando meus argumentos em explicações dadas por pessoas que conhecem a fundo a área diplomática. Acredito que não é difícil entender que representar toda uma nação perante um país estrangeiro não é tarefa fácil. É necessário ter a habilidade de mostrar aos interlocutores a realidade brasileira, além dos estereótipos, compreendendo e respeitando as peculiaridades e diferenças culturais dos diplomatas estrangeiros. Para tanto, é necessário ter um conhecimento profundo tanto da história brasileira, como da história do país estrangeiro com quem se está dialogando, neste caso, os Estados Unidos. Eu acredito que ter amizade com os filhos do presidente Trump pode até ser algo positivo, mas o trabalho de um embaixador junto ao nosso principal parceiro internacional deve ir além disso, pois cabe a ele fazer a ponte entre as instituições governamentais e civis dos dois países, trabalhando para que estas instituições possam ter um entendimento comum a respeito dos temas da atualidade. E não é uma tarefa fácil, já que cada nação possui os seus próprios interesses e a sua própria visão de mundo.

Sei que corro o risco de atrair a fúria dos bolsonaristas mais radicais, mas não concordo com a indicação de Eduardo Bolsonaro para ser embaixador nos Estados Unidos. Acredito que este posto, considerado o ápice da carreira diplomática, deve ser reservado a um diplomata de carreira, com experiência em negociações internacionais, em gestão administrativa, com ampla visão de mundo, com conhecimento das posições estratégicas do Brasil e preparado para usar as ferramentas diplomáticas para defender estas posições.

Além disso, não podemos enxergar a relação diplomática com os Estados Unidos apenas no curto prazo. Donald Trump e Jair Bolsonaro não serão presidentes para sempre, e por isso eu acredito que o relacionamento com os Estados Unidos deve ser pensado no médio e longo prazo, deve ser algo que vai além da amizade e do relacionamento pessoal dos integrantes dos atuais governos.

A provável nomeação, a meu ver, enfraquece a carreira diplomática. Embora não seja obrigatório ser diplomata para ser nomeado embaixador, um presidente nomear o próprio filho para a embaixada mais importante desestimula  os diplomatas a se esforçarem em se preparar profissionalmente, já que o cargo máximo parece ficar inatingível.

E nem tratei aqui da questão de nepotismo. Não vou entrar no mérito desta questão. Porque mesmo que seja considerada legal, eu acho que esta nomeação é imoral, e aponta na direção contrária à da nova política alardeada pelo novo governo. Muitos dizem que o presidente precisa nomear o filho por se tratar de um cargo estratégico e de confiança, mas existem muitos outros cargos estratégicos e de confiança. O que se pretende fazer? Nomear a família toda para ocupar todos os cargos que exijam confiança? Não posso acreditar que o presidente, mesmo tendo a prerrogativa de nomear, não tenha pessoal capacitado e de confiança ao seu redor com quem possa contar, que não seja da sua família. Se a nomeação se confirmar, o deputado deverá ser sabatinado na Comissão de Relações Exteriores do Senado, que tem o seu irmão, o senador Flávio Bolsonaro como integrante, tornando tudo muito bizarro.

Enfim, não acho que seja uma boa ideia. Obviamente, expresso aqui a minha humilde opinião, ciente de que não fará diferença. Também não vou lutar e nem fazer campanha contra a nomeação, respeitarei a decisão que o presidente vier a tomar. Mas minha opinião sobre este assunto não mudará!

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