As manifestações de 30 de Junho de 2019

Esplanada dos Ministérios, Brasília/DF

No domingo 30 de Junho de 2019, ocorreram por todo o país manifestações em defesa do ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, a Reforma da Previdência Social, o decreto do Porte de Armas e a Operação Lava Jato. As manifestações foram convocadas através das redes sociais logo após os vazamentos iniciais de supostas mensagens trocadas pelo ministro Sérgio Moro e o coordenador da Operação Lava Jato, o procurador da república Deltan Dallagnol, publicadas pelo site de notícias The Intercept Brasil e assinadas pelo jornalista americano Glenn Greenwald, que vive no Rio de Janeiro desde 2005 e é casado com o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ). As publicações do The Intercept Brasil se baseiam em material supostamente fornecido por fonte anônima, obtido por meios desconhecidos e cuja autenticidade não pode ser verificada, e atacam as condutas de Moro e Dallagnol no que se refere à condução das investigações e dos processos judiciais referentes à Lava Jato, buscando com isso, a anulação dos atos jurídicos que envolvem principalmente o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, atualmente preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, no caso que envolve o tríplex no Guarujá.

Diante dos supostos diálogos divulgados, e que não possuem até o momento, nada comprometedor ou que sirva de motivo jurídico para contestação de sentença judicial que já foi julgada e confirmada em três instâncias diferentes da Justiça brasileira, a população enxergou estas publicações não apenas como um ataque à pessoa do ministro Sérgio Moro, mas como uma clara tentativa de libertar o ex-presidente Lula e colocar um fim à Operação Lava Jato. Tal fato gerou uma indignação popular, que tomou conta das redes sociais, e atingiu proporções bíblicas depois que o ministro Sérgio Moro compareceu voluntariamente à Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, para prestar esclarecimentos aos senadores, e onde foi inquirido por conhecidos investigados por corrupção, lavagem de dinheiro, entre outros crimes. Foi surreal ver o ministro da Justiça sendo interrogado por conhecidos envolvidos em processos e investigações, e cujos nomes constam de planilhas de pagamento de propinas!

Foi este sentimento de indignação que levou a população a se mobilizar para prestar solidariedade ao ministro Moro, tido por muitos e com razão, como um símbolo do combate à corrupção, a maior praga a afligir nosso país, corrompendo todas as esferas da nossa sociedade, estando entranhada em todos os lugares. Some-se a isto o fato do Congresso Nacional ter derrubado o decreto presidencial do Porte de Armas, promessa de campanha feita pelo presidente Bolsonaro e que mexe com o humor de parcela significativa da população, que é favorável ao decreto. A derrubada do decreto do porte de armas gerou indignação também, por desrespeitar o plebiscito realizado em 2005 onde a população se colocou contrária ao Estatuto do Desarmamento, e cujo resultado  foi ignorado pelos parlamentares.

Ao contrário do protesto anterior, realizado em 26 de Maio de 2019, desta vez vários movimentos e grupos se engajaram para mobilizar a população para a manifestação. Esta participação dos movimentos de rua gerou protestos, principalmente contra o Movimento Brasil Livre (MBL), pois são considerados por muitos como traidores da população por não terem apoiado a manifestação anterior. O povo não engoliu a justificativa dada pelos movimentos para a ausência e falta de apoio deles.

Segundo a imprensa em geral, a manifestação foi expressiva, embora considerada menor que a anterior, em termos do número de participantes. A Polícia Militar não divulgou estimativa de participantes, pelo menos não encontrei esta informação divulgada pela imprensa. Houve manifestações em pelo menos 80 cidades de 24 estados e no Distrito Federal. As manifestações mais expressivas ocorreram em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte.

Outras pautas acabaram surgindo nos protestos, como a destituição do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal e a instalação da CPI da Lava Toga. A população também reforçou o apoio à proposta de reforma da Previdência Social do ministro Paulo Guedes, exigindo que o Congresso aprove uma reforma que garanta uma economia em dez anos de no mínimo R$ 1 trilhão de reais.

Ao contrário do que ocorreu depois das manifestações de Maio/2019, desta vez ficou a impressão de que os políticos não se intimidaram com os protestos vindos das ruas. Apesar de ser raro, em qualquer país democrático no mundo, ver a população ir em massa às ruas exigir reformas como a da previdência e apoiar o presidente e ministros de estado ficou claro, ao menos para mim, que este tipo de manifestação já não surtirá os efeitos desejados. Manifestações aos domingos não intimidam mais aqueles que são os alvos delas.

Na minha opinião, as manifestações devem ocorrer em dias em que há sessões no Congresso Nacional. Não acho que devemos parar o país inteiro, acho que o foco das manifestações e protestos deve ser Brasília e o Congresso Nacional. Encher de pessoas a Esplanada dos Ministérios e o gramado em frente ao Congresso aos domingos é bonito e saudável para exercitar a participação das pessoas na vida democrática e política do país, mas ineficaz para gerar a desejada mudança na postura dos nossos políticos. Precisamos de uma postura mais contundente diante do desafio de mostrar aos políticos que o verdadeiro poder está em nossas mãos e queremos exercê-lo!

Obviamente não estou defendendo nenhuma medida radical ou violenta, apenas quero dizer que precisamos nos mobilizar de forma mais focada, por exemplo cercando o edifício do Congresso Nacional em dia de votação de matérias importantes. Há um preço que precisa ser pago se realmente queremos mudar os rumos da política do nosso país e influenciar o trabalho dos nossos representantes. Ativismo virtual é bonito e fácil, mas não gera os resultados que queremos na vida real. Precisamos ter na vida real o mesmo engajamento que temos na vida virtual.

Nós da nova direita brasileira, precisamos nos esforçar para não nos fechar em bolhas ideológicas ou virtuais, como fazem muitos militantes de esquerda. Precisamos tomar o nosso lugar e ocupar o nosso espaço na vida pública, participando ativamente da vida política do país. O debate político é saudável, mas é apenas o primeiro passo na vida democrática, precisamos agora ter a coragem de dar os passos seguintes!


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