Japão: Escolhido o sucessor de Shinzo Abe
Reproduzo abaixo o meu artigo, escrito para a coluna Conexão Japão, da revista Digital Vida Destra:
Ainda
sofrendo os efeitos da pandemia de Covid-19, que causou a maior retração econômica
do pós-guerra no segundo trimestre deste ano, com uma taxa anualizada de -28%,
o Japão precisava rapidamente encontrar um novo líder, para evitar que o vácuo
no poder, com a repentina renúncia de Abe, se transformasse em mais um problema
a se resolver. Devo lembrar aos amigos leitores que o Japão é uma monarquia
constitucional parlamentarista, e que portanto, o primeiro-ministro é indicado
pelo partido que detiver o maior número de cadeiras nas duas casas que compõem
a Dieta, como é chamado o parlamento japonês. Já há varias décadas, o Partido
Liberal Democrata (PLD) mantém o controle do parlamento e o cargo de primeiro
ministro é ocupado por aquele que estiver ocupando a presidência do partido.
Shinzo Abe não renunciou apenas ao cargo de primeiro-ministro, mas também
deixou a presidência do PLD. Em situações normais, o PLD convocaria eleições
para a escolha de seu novo presidente, o que envolveria não apenas os políticos
membros do parlamento, mas todas a pessoas filiadas ao partido. Devido ao
momento delicado vivido pelo país, os líderes do partido decidiram que, para
agilizar a escolha do novo presidente do PLD, somente os parlamentares do
partido e suas representações provinciais poderiam votar nestas eleições.
Assim, a eleição seria vencida pelo candidato que obtivesse a maioria dos 535
votos possíveis, sendo que destes, 394 são votos de parlamentares do partido e
141 votos referentes às representações provinciais, sendo três votos para cada
uma das 47 províncias japonesas.
Desde o
anúncio da renúncia de Abe, vários políticos do PLD manifestaram a sua intenção
de concorrer à presidência do partido. Entre eles, Shigueru Ishiba, ex-ministro
da Defesa e Fumio Kishida, ex-ministro das Relações Exteriores. Porém, o nome
que ganhou força entre as várias facções internas do PLD, foi o de Yoshihide
Suga, que atuou como secretário-chefe do Gabinete e porta-voz do governo, e
representa a continuidade do governo de Abe e a manutenção de suas medidas, sem
a adoção de mudanças bruscas. O consenso no partido de que a continuidade seria
o melhor para o país, se refletiu no resultado da eleição realizada nesta
segunda-feira 14 de setembro, com Yoshihide Suga recebendo 377 votos, Ishiba 89
votos e Kishida 68 votos.
Escolhido o
novo presidente do Partido Liberal Democrata (PLD), Yoshihide Suga deverá ter o
seu nome confirmado em nova eleição, desta vez realizada no parlamento, em uma
sessão extraordinária, a se realizar hoje, 15 de setembro. Tal confirmação é
dada como certa por todos os analistas políticos, pois o PLD controla ambas as
casas do parlamento. Após ter o seu nome confirmado, Suga deverá anunciar os
nomes dos novos membros do Gabinete. Seu mandato deverá se limitar a completar
o tempo restante do mandato de Shinzo Abe, que se encerra em setembro de 2021.
Já existem rumores, entretanto, que Suga poderá antecipar as eleições, para
obter um mandato completo, de três anos.
Yoshihide
Suga, de 71 anos, era desconhecido da maioria das pessoas fora do Japão e só se
tornou popular quando, na função de secretário-geral do Gabinete, foi o
responsável por anunciar o nome escolhido para marcar a nova era imperial que
se iniciou com a ascensão ao trono do imperador Naruhito, Reiwa (令和, pode ser interpretada como Bela Harmonia). Filho de produtores rurais da província de Akita,
no norte do Japão, Suga não pertence a uma das ricas e tradicionais famílias
que atuam na política japonesa, e possui um perfil voltado ao trabalho nos
bastidores. Por isso, desde 2012 ocupou o cargo de secretário-geral do Gabinete
e atuou como porta-voz do governo e foi um dos principais conselheiros de Abe.
O novo
primeiro ministro do Japão, em seu mandato-tampão de um ano, deverá seguir na
administração da crise gerada pela pandemia de Covid-19, e deverá dar
continuidade às atuais políticas do governo. Yoshihide Suga também deverá
conduzir os preparativos para a realização das Olimpíadas de Tóquio, que foram
adiadas para o mês de julho de 2021. Com o pouco tempo de governo que terá pela
frente, não deverá adotar nenhuma medida drástica ou que mude de forma brusca a
direção seguida por seu antecessor. Se nas eleições do próximo ano ele
conseguir um mandato de três anos, então poderá pensar em medidas diferentes.
De qualquer forma, a tarefa que o novo primeiro-ministro receberá em suas mãos
não será fácil. Trocar o piloto quando o avião está em queda livre pode não ser
uma boa ideia, mas neste caso não há alternativas. Que Deus abençoe o novo
primeiro ministro do Japão e que ele seja sábio em suas decisões!
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