O triste ocaso do MBL

O empresário Luciano Ayan, tido como o guru do MBL

Lá pelos idos de 2013, a indignação com os rumos da política, que estava destroçando o país, causou o despertar do sentimento cívico dos brasileiros, e provocou o surgimento de diversos movimentos populares, com o objetivo de lutar contra a corrupção, a roubalheira e outros males que corroíam (e ainda corroem) o sistema político brasileiro. Foi quando protestos gigantescos tomaram as ruas do Brasil. Naquele momento, me senti feliz ao ver o engajamento das pessoas, especialmente dos jovens! Finalmente começava a cair por terra uma mentalidade atrasada, que dizia que política, religião e futebol não se discutem, e as pessoas passaram a debater avidamente a política nacional e a definir pautas para resgatar o futuro do país, sequestrado pela esquerda!

O debate é importante, mas não podemos ficar apenas nas palavras, e gostei de ver as pessoas se juntando e formando grupos e movimentos, que passaram a lutar de forma prática e mais organizada pelas pautas que defendem! Nesse meio, surgiu o Movimento Brasil Livre (MBL), e achei muito bacana ver um grupo de jovens se organizando para lutar contra a esquerda, em defesa de pautas liberais e em favor do futuro do país! Num país de jovens alienados e doutrinados por Paulo Freire, foi alentador testemunhar a garra e o engajamento destes jovens! Reacendeu em mim a esperança num Brasil melhor, finalmente parecia que o Brasil ia dar certo e que o futuro da nação estava garantido!

Apesar dos protestos, Dilma foi reeleita em 2014, e todos nós lutamos com unhas e dentes pelo impeachment dela, que ocorreu em 2016. O trabalho do MBL foi importantíssimo e contribuiu muito para esta conquista da nossa democracia. Eu não fiquei surpreso quando integrantes do movimento anunciaram candidaturas a cargos eletivos, pois acredito que não podemos ficar apenas nos debates e, se quisermos realmente que as coisas mudem, precisamos mudar a política, e para isso precisamos de novas pessoas dispostas a encará-la, ou ela permanecerá nas mãos dos velhos caciques e das raposas felpudas de sempre! Não me canso de repetir: nova política se faz com novas pessoas! Temos que ir às ruas defender as nossas pautas, e devemos arregaçar as mangas e lutar por estas pautas na arena política também! Considero isto algo natural.

Porém, mesmo considerando natural que alguns ativistas ingressem na política, a luz amarela acendeu para mim no momento em que foi anunciado que Arthur do Val (Mamãe Falei), Fernando Holiday e Kim Kataguiri sairiam como candidatos nas eleições de 2018 pelo Democratas. Eu não conseguia ver, naquele momento, como poderiam continuar defendendo as pautas de nosso interesse filiados a um partido que pouco fazia por elas. Eleitos e empossados, eles passaram a ter uma postura diferente da que tinham antes, assim como o próprio MBL. De apoiadores do presidente eleito Jair Bolsonaro, gradualmente passaram a adotar uma postura de oposição ao governo.

A luz vermelha se acendeu quando o movimento decidiu se posicionar contra as manifestações populares ocorridas em maio do ano passado. Hoje, já vemos circulando pelas redes sociais vídeos nos quais o coordenador nacional do MBL Renan Santos, diz com todas as letras que vai "destruir" o governo Bolsonaro! É uma postura antidemocrática e inaceitável vinda de um movimento que diz lutar por um país livre! E também é uma afronta aos 57 milhões de eleitores que elegeram Bolsonaro, e mostra que o MBL deixou de ser um movimento popular orgânico e passou a agir em nome de interesses de grupos restritos e também mostra do que esse movimento é capaz quando seus interesses são contrariados!

A prisão do empresário Carlos Augusto de Moraes Afonso, mais conhecido como Luciano Ayan, que seria o guru intelectual do movimento, é apenas mais um triste capítulo na história deste movimento, que tinha tudo para ser um movimento popular relevante durante décadas, se não tivesse sucumbido à práticas que ele mesmo condenava! O movimento claramente se afastou das ruas, e foi perdendo vários  de seus coordenadores, membros antigos, que deixaram o movimento decepcionados com os rumos seguidos por este. Ao deixar de defender as pautas apoiadas pela sociedade e passar a defender uma agenda política, que visava a obtenção de poder, o MBL se igualou aos militantes de esquerda tão odiados pela população. Agora, com os escândalos que estão saindo em toda a imprensa, essa semelhança do MBL com partidos como o PT ficou ainda mais clara! A população não perdoará! É triste ver a que nível deplorável o movimento desceu!

Esta decepção com o MBL e com outros movimentos criados na esteira dos acontecimentos de 2013~2016, não pode nos desanimar quanto à necessidade de nos organizarmos! Ainda tem muita gente séria e muitos grupos sérios país afora, dispostos a lutar de verdade pelas pautas conservadoras. Precisamos aprender com estes episódios para que possamos amadurecer na militância e no campo político. Como eu mencionei, não é errado um movimento popular escolher um ou mais de seus membros para lançá-los como candidatos, já que as ruas são importantes, mas é na arena política que as coisas se resolvem, de fato. Posso citar um bom exemplo de político que veio de um movimento: o deputado estadual paulista Douglas Garcia, do movimento Direita São Paulo, que se mantém fiel às pautas defendidas pelo movimento e agora atua na Assembleia Legislativa de São Paulo para defendê-las! Seu trabalho e sua postura são louváveis!

Toda pessoa precisa de uma fonte para buscar informações, precisamos de pessoas que detenham conhecimento e que estejam aptas a transmiti-lo, mas não devemos elevar ninguém ao posto de guru! Daqui para a frente, precisamos estar atentos para que "gurus" não fiquem à frente de movimentos, que devem se pautar pelo debate democrático entre os seus membros. Temos hoje, no Brasil, o péssimo hábito de elevar rapidamente as pessoas ao nível de celebridades, e de colocá-las em pedestais! Por isso temos nos decepcionado tanto com as pessoas! Precisamos de grupos de estudo e de movimentos organizados que façam o trabalho de difundir o conhecimento necessário ao fortalecimento da militância de direita e, consequentemente, da luta em prol das nossas pautas!

Não podemos permitir que grupos com interesses escusos continuem enganando as pessoas, mas ao mesmo tempo, cada pessoa precisa aprender a desenvolver o seu próprio senso crítico, para analisar e avaliar as situações envolvendo o grupo do qual faz parte. Em resumo, a decepção com o MBL não deve gerar em nós o sentimento de que não precisamos, ou que não adianta participarmos de movimentos como este. Reitero, precisamos nos organizar! Lutamos contra a esquerda, que é muito mais organizada que a recém formada direita brasileira. Temos muito o que aprender e muito o que fazer até que possamos ter uma militância autêntica de direita! Quanto ao MBL, é uma pena que termine assim, mas estão colhendo aquilo que eles mesmos plantaram!

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