Bolsa de Valores e Dólar: devemos nos preocupar?


O mês de fevereiro foi um mês bastante agitado no mercado financeiro internacional, devido às preocupações com as consequências econômicas da epidemia provocada pelo coronavírus. Tal preocupação decorre principalmente do fato de o epicentro da epidemia ser a China, considerada um dos principais motores da economia mundial atual. Com a paralisação das suas fábricas, como medida preventiva para evitar que o vírus se espalhe ainda mais, os reflexos nas cadeias globais de suprimentos e matérias-primas já são perceptíveis e preocupam os empresários e investidores.

Aqui no Japão, o setor manufatureiro sofreu um baque, com as indústrias parando a produção por falta de componentes, ou por não terem como exportar materiais que seriam usados pelos fabricantes chineses. Aqui, muitas empresas já cortaram produção, cancelaram contratos e já começaram a demitir funcionários, para lidar com esta queda na demanda. Some-se a isto o aumento sobre o imposto sobre o consumo, de 8% para 10% implementado pelo governo do primeiro-ministro Shinzo Abe em outubro passado e está dada a receita para uma recessão econômica!

O Brasil também não ficará imune às consequências econômicas desta epidemia. Mesmo não sendo ainda um player global com o peso de países como a China, o desaquecimento econômico em vários países que são nossos parceiros comerciais, terá forte impacto em nosso comércio exterior.

Os primeiros reflexos estão sendo sentidos pelo mercado financeiro. No mês de fevereiro a cotação do dólar e a Bolsa de Valores de São Paulo tiveram grandes oscilações. A moeda americana fechou fevereiro cotada em R$ 4,48, com uma alta de 4,56% no mês. Com a alta de 6,8% de janeiro, o dólar já acumula uma valorização de 11,67% frente ao real em 2020. O dólar atingiu a maior cotação nominal desde a criação do Real, embora não seja a maior cotação já atingida. Se considerarmos a inflação americana e brasileira e atualizarmos o poder de compra das duas moedas, constataremos que a maior cotação já atingida pelo dólar frente ao real ocorreu no dia 22/10/2002, no final do governo FHC, quando o dólar foi negociado a R$ 3,952, o que seria equivalente hoje a mais de R$ 7,00! Naquele momento, era outro o motivo que causava rebuliço no nosso mercado de câmbio: a vitória de Lula no segundo turno das eleições, já dada como certa pelas pesquisas à época, e que causava temores a respeito do futuro da economia e causou fuga em massa de investidores. Hoje sabemos que tiveram mesmo motivos para temer um presidente que, de fato,  destruiu o país em nome de um projeto de poder!

A bolsa brasileira fechou o último pregão de fevereiro com valorização de  1,15%, aos 104.171,57 pontos, puxada pelos mercados internacionais que reagiram positivamente à possibilidade de queda de juros nos Estados Unidos, que ocorreria para estimular a economia americana e evitar uma recessão causada pela crise gerada pelo coronavírus. No mês, entretanto, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou em queda de 8,43%.

É claro que a crise gerada pelo coronavírus está afetando nosso mercado financeiro. Mas precisamos compreender que este não é o único fator a influenciar estes movimentos do mercado. Políticos de esquerda, que já mostraram na prática que nada entendem de economia, começaram a espalhar que a Bolsa e o dólar, que eram consideradas a comprovação de que a política econômica implementada pelo ministro da economia Paulo Guedes estava correta, estouraram como um balão que foi furado pela agulha chamada coronavírus. Nada mais falso! Estão apenas tentando capitalizar politicamente em cima de fatos que nada tem a ver com o discurso!

Com a queda dos juros, o mercado de investimentos brasileiro deixou de ser interessante para os investidores internacionais que buscavam ganhos rápidos com a nossa taxa de juros, que já foi uma das mais altas do mundo. Muitos dólares entravam no país para investimentos especulativos, e não para investimentos em produção e compra de ativos empresariais. O movimento de saída de investidores estrangeiros já vinha provocando a alta na cotação do dólar há algum tempo, não é de agora! A crise do coronavírus apenas acentuou um movimento pré-existente! Já no caso da bolsa de valores, a queda dos juros fez muitos investidores brasileiros deixarem os investimentos tradicionais como a poupança e os fundos de renda fixa, para ingressarem no mercado de ações. Foi este movimento de migração de investidores que causou as altas recordes da bolsa brasileira, que mesmo com a queda acentuada sofrida nos últimos dias, ainda está bem acima do patamar em que estava em janeiro de 2019, no início do governo do presidente Bolsonaro, quando o IBOVESPA estava cotado em 91.012,31 pontos (02/01/2019).

Tanto o mercado de câmbio como o mercado de capitais sofrem a influência direta da Lei da Oferta e da Procura. E são dois os fatores principais que regem a oferta e a procura de títulos e divisas: o medo do risco e o senso de oportunidade. Tenham certeza, meus amigos, que muita gente está ganhando dinheiro com toda esta movimentação! Eu acredito que em breve o mercado irá encontrar o seu ponto de equilíbrio e as cotações voltarão a oscilar de forma menos brusca. Devemos compreender que tudo depende ainda de quanto tempo a China vai precisar para retomar as atividades de suas indústrias, colocando a cadeia global de suprimentos para funcionar novamente. No Brasil, o impacto maior ocorrerá no nosso comércio exterior, e o tamanho do impacto vai depender da restauração da atividade industrial chinesa também, mas devemos ter em mente que este momento é propício para estabelecer novas parcerias comerciais, para que as empresas busquem novos fornecedores e conquistem novos mercados para os seus produtos, aproveitando o câmbio favorável. Teremos consequências, mas creio que não será o fim do mundo. Nossas reservas cambiais, nosso mercado interno, a maioria de investidores brasileiros na bolsa e nossa vocação para ser o celeiro do mundo devem nos auxiliar a atravessar este período turbulento.

Certa vez eu li num livro que os ideogramas chineses que são utilizados para escrever a palavra crise, significam perigo e oportunidade! E já que esta crise se iniciou na China, vamos utilizar a antiga sabedoria deste povo para superarmos este momento conturbado. Sofreremos as consequências desta crise, mas que possamos ter a sabedoria para não apenas atravessarmos este período com menos danos quanto for possível, mas também que possamos crescer e melhorar com ela!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A prisão de Roberto Jefferson

Sejam Bem-vindos!

A demissão de Sérgio Moro