O Japão e as Privatizações
Reproduzo abaixo o meu artigo escrito para a coluna Conexão Japão, da revista digital Vida Destra:
O Japão e as Privatizações
Sempre
deixei claro a todos o meu posicionamento favorável à venda de TODAS as
empresas estatais. Houve um momento no qual o governo precisou criar empresas
para oferecer à sociedade produtos ou serviços que não eram considerados
interessantes pela iniciativa privada, e também empresas destinadas a promover
o desenvolvimento econômico ou a proteção de interesses nacionais estratégicos.
Este tempo já ficou para trás, e hoje a iniciativa privada tem interesses
diversificados. Por este motivo, não temos mais a necessidade de manter
empresas sob o controle do governo! É uma ilusão pensar que estas empresas
pertencem ao povo, que só participa dos prejuízos!
Infelizmente
a questão das privatizações encontra muita oposição, que envolve desde os
funcionários das empresas estatais, que temem perder sua estabilidade e
privilégios, que geralmente não tem similares nas empresas privadas, até os
políticos que temem perder seu capital político e as oportunidades de nomeações
e apadrinhamentos que poderão render altos lucros, através da corrupção e do
desvio de recursos públicos! Mas não pensem que é só no Brasil que o tema gera
debates acalorados! Aqui do outro lado do planeta as coisas não são diferentes!
Nos anos 80,
o Japão promoveu grandes privatizações, no setor do transporte ferroviário e das
comunicações, com a privatização da Japan Railways (JR) e da Japan Telegraph
and Telephone Corp. (NTT). Mas o grande desafio enfrentado pelo Japão foi a
privatização do seu serviço de correios!
O debate em
torno da ideia de privatizar o serviço postal japonês remonta ao final dos anos
70, mas só começou a tomar forma em 2 de abril de 2003, quando foi criada a
Japan Post, a empresa que sucedeu a Agencia de Serviços Postais na
administração do serviço de correios no Japão. Com 25 mil agências e 250 mil funcionários,
a Japan Post era um verdadeiro colosso, pois além dos serviços postais, também
atuava nas áreas de poupança e seguros, com ativos de US$ 3 trilhões (2005), o
que fazia da Japan Post a maior empresa estatal de serviços financeiros do
mundo. Ela também era a maior investidora em títulos da dívida japonesa,
possuindo US$ 1,22 trilhão (2005) em papéis.
Em 2007 o
então primeiro-ministro Junichiro Koizumi enviou a proposta de privatização da
Japan Post ao parlamento japonês. Depois de acalorados debates e de uma
rebelião no seu próprio partido, o Partido Liberal Democrático (PLD), Koizumi
viu a proposta ser aprovada na Câmara Baixa, mas ser rejeitada na Câmara Alta
do parlamento. Em reação, o primeiro-ministro aproveitou sua alta popularidade
e dissolveu o parlamento, convocou novas eleições legislativas, negou apoio às
candidaturas dos membros do PLD que se rebelaram e transformou o pleito em uma
espécie de referendo, com a população manifestando através do voto o seu apoio
ao projeto de privatização da Japan Post.
Neste ponto
é necessário esclarecer a importância deste projeto de lei. Enquanto estava sob
os cuidados da Agência de Serviços Postais, o orçamento dos correios fazia
parte do orçamento do governo central. Criar uma empresa para administrar estes
serviços foi o primeiro passo para tirar os correios das mãos do governo. A
privatização desta empresa gigantesca visava tornar o Estado mais enxuto e
também fazia parte do plano estratégico de longo prazo do governo, que deveria promover
o ajuste das contas públicas e ajudar a diminuir o alto endividamento público
japonês. Além disso, visava combater o apadrinhamento e o uso político de sua
estrutura e patrimônio, já que muitos políticos se aproveitavam da capilaridade
da rede de agências dos correios para troca de favores e obtenção de apoio e
doações para campanhas. A empresa Japan Post operava com lucro, sendo que no
exercício fiscal de 2006, apresentou um
lucro de ¥ 1,993 bilhão de ienes (aproximadamente US$ 17 milhões), ínfimo em
relação ao porte da empresa!
Koizumi
saiu vencedor das eleições, e o projeto foi aprovado pelo novo parlamento. A lei
aprovada criava a Japan Post Group, e determinava que a Japan Post fosse
dividida em quatro empresas: Japan Post Holdings, Japan Post Bank, Japan Post Insurance
e Japan Post Postal Services. Também estipulava o prazo de dez anos para que o
capital destas empresas fosse gradualmente aberto à iniciativa privada.
Mas as
polêmicas não se encerraram com a aprovação da lei! Em 2010, o Partido
Democrático do Japão (PDJ), de oposição, obteve maioria no parlamento,
quebrando décadas de hegemonia do PLD e o novo primeiro-ministro, Yukio
Hatoyama, propôs uma lei para frear a abertura do capital das empresas do Japan
Post Group. Após pouco mais de oito meses no cargo, Hatoyama perdeu o apoio no
parlamento, sendo obrigado a renunciar. Foi sucedido por Naoto Kan, que assumiu
a chefia do governo empenhado em revitalizar as finanças públicas, e que
retardou o envio ao parlamento da lei que tentaria travar a privatização dos
serviços postais, numa postura contrária à de seu antecessor, apesar de serem
do mesmo partido!
Em 2015, já
no governo de Shinzo Abe, as empresas do Japan Post Group promoveram uma oferta
pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) na Bolsa de Valores de
Tóquio, obtendo o valor total de US$ 12 bilhões, no que foi a maior oferta
pública inicial de ações do ano de 2015, e uma das maiores já registradas!
Demorou, mas o plano do governo japonês de privatizar sua empresa de correios,
se concretizou!
As
dificuldades em relação às privatizações não são apenas nossas! Vários países,
desenvolvidos e em desenvolvimento, enfrentaram dificuldades, em diferentes
graus. Existem muitos interesses ligados às empresas estatais, e muitas pessoas
lutarão com unhas e dentes para a manutenção do status quo! Nós, conservadores, não podemos nos amedrontar diante
do tamanho dos desafios que teremos que enfrentar, se quisermos reduzir o
tamanho do Estado brasileiro. E esta redução é necessária, se quisermos fazer
uma Reforma Tributária que, de fato, diminua os impostos que nos são cobrados.
Quanto maior o Estado, maior o custo da sua manutenção, e quanto maior este
custo, maior o valor dos impostos a serem arrecadados! Sempre seremos nós a
pagar esta conta!
Não
precisamos de Estado banqueiro, que entregue cartas ou perfure poços de
petróleo! A iniciativa privada pode muito bem cuidar destas tarefas, permitindo
que o Estado se ocupe de áreas mais importantes para a sociedade, como a
Educação, a Saúde e a Segurança Pública, por exemplo! E ainda gerando receitas
através dos impostos recolhidos e sem a necessidade de aporte de recursos
públicos para cobrir eventuais prejuízos! Amigos, o melhor caminho para a
redução do Estado é o que passa pelas privatizações de todas as nossas empresas
estatais!
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