As eleições presidenciais de 2022 - Parte 4
O Ato Final
Nos dias que se passaram após o
segundo turno das eleições presidenciais, milhares de brasileiros seguiram se
manifestando de forma ininterrupta diante de quartéis, Comandos Militares e
outras instalações militares Brasil afora, tendo o Quartel-General (QG) do
Exército em Brasília como ponto central das manifestações.
Diante dos claros indícios de
irregularidades no processo eleitoral, apontados por especialistas de partidos
políticos e das próprias Forças Armadas, a população se manifestou pedindo, ou
melhor, clamando para que as autoridades competentes tomassem as devidas
providências para que todas as irregularidades envolvendo o processo eleitoral
fossem sanadas, garantindo que tivéssemos um pleito justo e cujo resultado
fosse realmente legítimo.
Mesmo com todas as contestações
feitas (e que, diga-se de passagem, são permitidas pela legislação eleitoral) o
processo eleitoral prosseguiu, com a conclusão oficial do processo de apuração
de votos e a consequente diplomação dos eleitos.
Mesmo diante do desenrolar destes
fatos, a maior parte da população seguiu se manifestando, mostrando de forma
clara a sua insatisfação com o processo eleitoral e com a forma como as
autoridades estavam lidando com as contestações feitas, em especial com a
conduta do presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes.
E as críticas têm fundamento, uma vez
que inquéritos ilegais foram abertos à revelia do Ministério Público e têm
investigado qualquer pessoa que entre no radar do ministro, mesmo que a pessoa
não tenha foro por prerrogativa de função. Qualquer pessoa passou a ser
investigada neste inquérito da corte constitucional, o que por si só já é uma
aberração jurídica, já que o Regimento Interno do STF, em seu artigo 43,
permite que o presidente da corte abra inquéritos para investigar fatos ou
crimes ocorridos dentro das dependências da sede da corte. Porém, o próprio
plenário do STF entendeu que qualquer situação envolvendo a corte ou seus
membros pode se tornar objeto deste tipo de inquérito, abrindo as portas para
todo tipo de aberração jurídica e todo tipo de violação à Constituição.
É importante que se registre que o
fato da maioria dos ministros terem votado a favor de tal entendimento não o
torna legal, já que o plenário da corte não tem o poder de tornar legal aquilo
que a lei não prevê. Em outras palavras, o plenário do STF não tem o poder de
tornar legal o que é claramente ilegal. Quando age desta maneira, o STF está
legislando e usurpando as atribuições do Poder Legislativo. Por este motivo
sempre me referi a estes inquéritos como sendo ilegais e assim continuarei
fazendo.
Alexandre de Moraes passou a usar
estes inquéritos para perseguir e punir qualquer pessoa que ousasse criticar ou
questionar publicamente o processo eleitoral ou o resultado das eleições.
Criticar as urnas eletrônicas se tornou um crime passível de prisão, mesmo não
havendo lei que assim determine. A vontade do ministro passou a ser a lei.
E vale lembrar que o próprio ministro
abriu o inquérito, conduz as investigações, determina buscas e apreensões,
bloqueios de contas bancárias e de perfis em redes sociais e até mesmo prisões,
usando como justificativas "ataques às instituições e ao estado
democrático de direito" ou simplesmente o cometimento de "atos
antidemocráticos". O ministro assumiu o papel de vítima, investigador,
acusador, juiz e executor das sentenças, que muitas vezes penalizam pessoas que
sequer têm acesso ao processo para poderem exercer o amplo direito de defesa
garantido pela Constituição ou sem que tenham tido um julgamento feito dentro
dos ritos previstos no devido processo legal.
Todos vimos as arbitrariedades
acontecendo diante dos nossos olhos, com jornalistas tendo os seus perfis
bloqueados em redes sociais pelo simples fato de apontar as ilegalidades
cometidas. Canais no YouTube foram desmonetizados sem que uma explicação clara
fosse dada. Pessoas foram presas pelo crime de exporem de forma pública as suas
opiniões.
Isto aconteceria em democracias
verdadeiras? Obvio que não.
Ficou claro a todos que o país tinha
deixado de ser uma democracia no momento no qual o primeiro direito
constitucional foi ignorado por aqueles que deveriam protegê-lo e fazê-lo valer
para todos.
Quando as instituições do Estado
deixam de cumprir os seus papéis definidos em lei e passam a agir por vontade
própria, como fazemos para que elas voltem para a legalidade?
O primeiro passo seria remover de
seus quadros os membros que estão agindo fora dos ditames legais. Afinal de
contas as instituições sozinhas não fazem nada, são os seus membros que as
conduzem. Sendo assim, seria necessária uma ação corretiva para enquadrar os
membros que estivessem agindo fora de suas prerrogativas legais.
No caso do STF, cabe ao Senado Federal
a tarefa de fiscalizar, processar e julgar os membros da corte que se desviarem
das suas atribuições, podendo afastá-los de seus cargos caso necessário.
Infelizmente o presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco, se mostrou um
covarde mancomunado com os membros da corte, arquivando todos os pedidos de
impeachment de ministros da corte que chegaram até ele.
A própria Procuradoria-Geral da
República, que representa todo o Ministério Público, a quem cabe a prerrogativa
de pedir abertura de inquéritos e a condução de investigações, agiu de forma
muito branda diante da usurpação de suas funções cometida pelo ministro
Alexandre de Moraes.
A Câmara dos Deputados, a outra parte
do Poder Legislativo, nada poderia fazer sozinha a não ser pressionar o Senado.
Mas a pressão veio apenas de alguns poucos deputados que usaram o seu tempo na
tribuna para apontar as ilegalidades absurdas cometidas por Moraes e para
cobrar Pacheco. O deputado Arthur Lira, presidente da Casa, pouco ou nada fez
para pressionar o Senado. E os deputados que se manifestaram também correm o
risco de serem incluídos no inquérito ilegal de Moraes, que determinou o
bloqueio das contas de vários parlamentares em redes sociais, numa clara
violação das prerrogativas dos parlamentares e do direito constitucional de
livre expressão, além de violar a imunidade parlamentar prevista no artigo 53
da Constituição.
O presidente Jair Bolsonaro lutou
como pôde contra a situação mas acabou emparedado pelo STF e pelo parlamento,
que estava em conluio com Moraes. O STF anulou, a pedido de parlamentares,
várias medidas adotadas pelo governo, passando até mesmo por cima de decisões
soberanas do próprio Congresso Nacional. O senador Randolfe Rodrigues se tornou
famoso pela quantidade de ações que ajuizou junto ao STF buscando reverter
decisões do Executivo e do próprio Legislativo.
Então, a quem recorrer para resolver
a situação?
A única saída seria recorrer às
Forças Armadas, a única instituição que ainda gozava da confiança da população.
Não foi à toa que as pessoas foram para as portas dos quartéis pedir socorro.
O que não se esperava era que as
Forças Armadas nada fizessem, permitindo que o processo eleitoral se concluísse
com o candidato petista subindo a rampa do Palácio do Planalto e recebendo a
faixa presidencial.
Muitos imaginaram que o presidente
Bolsonaro, que passou os últimos dois meses praticamente em silêncio, reagisse
de alguma maneira, até mesmo acionando as Forças Armadas através do artigo 142
da Constituição. O silêncio do presidente durou até a manhã de quinta-feira, 29
de dezembro, quando abriu uma live e fez o balanço de seu governo e se despediu
dos apoiadores.
Mesmo diante das palavras do
presidente, muitos ainda mantiveram a esperança que algo fosse feito para
restaurar a lei e a ordem constitucional, anulando todos os atos ilegais
cometidos por agentes públicos, o que levaria inclusive à anulação das eleições
e à convocação de um novo pleito.
Mesmo com o discurso claro de
Bolsonaro, muitas pessoas alimentaram até o último instante a esperança de que
o verdadeiro estado de direito e a verdadeira democracia prevalecessem e o
Brasil se mantivesse no caminho correto. Muitos tentaram enxergar palavras nas
entrelinhas do discurso do presidente mas ele sempre falou de forma clara e
objetiva. Não posso acusá-lo de alimentar falsas esperanças no povo pois creio
que ele mesmo manteve estas esperanças até o último momento. O presidente não
foi covarde como acusam alguns. Ter deixado o país só mostra que ele sabe bem
contra quem está lutando e sabe que não hesitariam em tentar novamente tirar a
sua vida ou de algum familiar. O presidente deixou claro que o sistema é podre
e mais poderoso e perigoso do que podemos imaginar.
Infelizmente nada aconteceu e até o
momento em que escrevo estas palavras, parece que nada acontecerá.
O petista desfilou em carro aberto
pela Esplanada dos Ministérios, que estava cheia de apoiadores vestidos de
vermelho; participou da sessão solene do Congresso Nacional, onde foi investido
do cargo de Presidente da República; subiu a rampa do Palácio do Planalto, onde
recebeu a faixa presidencial e discursou no parlatório.
Tudo sob o olhar vigilante das Forças
Armadas, que agora têm no petista o seu comandante supremo.
Agora é seguir em frente e redobrar
os esforços na luta pela preservação do máximo possível do legado do governo
Bolsonaro, bem como lutar pela preservação e pelo respeito aos nossos valores.
Também devemos estar atentos e firmes na luta pelo respeito às nossas
liberdades.
Certamente virão perseguições mas
teremos que nos manter firmes e correr os riscos necessários para que possamos
restabelecer a nossa democracia. Não nos resta outra alternativa a não ser a
luta. Por hora, é uma luta através de palavras, discursos e manifestações
pacíficas. Mas o endurecimento não pode ser descartado. Quanto a isso, o futuro
dirá como deveremos lutar.
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