Tempos difíceis

Biblioteca Nacional - Rio de Janeiro



Primeiramente, gostaria de agradecer aos amigos leitores, pois os acessos ao blog permaneceram mesmo com este período sem atualizações. E peço desculpas pela falta de atualizações, mas nos últimos meses foi complicado arranjar tempo, e principalmente inspiração, para escrever. Temas não faltaram, nossa sociedade tem sido pródiga em fornecer matéria-prima para aqueles que gostam de escrever análises.

Nestes últimos dias de 2021, gostaria de escrever a respeito da percepção que tenho a respeito do futuro da nossa sociedade. Desde que retornei ao Brasil, em setembro de 2020, depois de mais de duas décadas vivendo fora, passei a redescobrir a nossa sociedade. Mesmo em constante contato através das redes sociais e demais meios de comunicação, não tive como perceber as mudanças pelas quais a nossa sociedade passou ao longo dos últimos anos.

Nós conservadores, costumamos dizer que lutamos pelos nossos valores, pelos nossos costumes e por nosso país, para preservar a cultura que recebemos de nossos antepassados e que será transmitida às próximas gerações. Mas, gostaria de fazer uma indagação com base no que tenho observado: as próximas gerações estarão preparadas para receber, preservar e transmitir o nosso legado?

Tenho uma sobrinha pré adolescente, e através das conversas com ela, e ouvindo o que ela conversa com seus colegas, estou chegando à conclusão que estamos focando em preservar a cultura e os nossos valores e estamos falhando em preparar as nossas crianças e jovens para receber esta herança cultural.

Por exemplo: as amiguinhas da minha sobrinha vieram em casa outro dia, e foi complicado preparar algo para o almoço, pois "ain eu não como feijão", "ain eu não como beterraba", "ain eu não como tomate", "ain eu não como pepino", "ain eu não gosto de salada", etc.! Eu brinquei com a minha sobrinha, dizendo que a geração dela seria responsável pelo fim da alta gastronomia, e que os chefs do futuro seriam especialistas em hambúrgueres de soja!

Parece exagero, mas não é! Em conversas com algumas pessoas, percebi que muitos pais estão totalmente despreparados para transmitir os valores corretos aos seus filhos. Conheci um casal em que a esposa disse com todas as letras que não ensina a filha a ser independente pois tem medo que a filha possa se acidentar ou se machucar se tentar fazer as coisas sozinha! Resultado: a filha, uma pré adolescente, não consegue fazer nada sem a presença dos pais e entra em desespero se o pai ou a mãe se atrasa um minuto para buscá-la na saída da escola.

Além da questão da educação que é dada nos lares, há também a questão envolvendo o que é ensinado nas escolas. Me assustei com o fato da minha sobrinha estar estudando na quinta série conteúdos que eu tinha estudado na terceira e quarta séries, mesmo ela estudando em escola particular e eu tendo estudado em escola pública. A deterioração do conteúdo didático das nossas escolas é alarmante, e apesar de muita gente estar ciente do problema, parece que pouco tem sido feito para resolver um problema tão sério. E a pandemia, que impôs as aulas online por conta do distanciamento social, só contribuiu para agravar o problema. E as dificuldades para os pais que querem ensinar seus filhos no sistema de Homeschooling só pioram a situação, e desestimulam a adoção deste sistema de ensino, que deveria ser um aliado para promover um ensino de qualidade.

Diante destes exemplos simples, pergunto: o que será da nossa literatura, da música clássica, das artes plásticas, da arquitetura, do cinema, do teatro, da religião, entre outras áreas? Em muitas destas áreas, já temos vários exemplos de degradação, que podem nos dar um vislumbre do que será a nossa sociedade, se não prepararmos nossos filhos para receberem e preservarem o nosso legado.

De nada adiantará a nossa luta árdua para preservar nossos valores e a nossa cultura se não prepararmos aqueles que deverão dar continuidade à nossa luta, receber o nosso legado, mantê-lo e transmiti-lo aos seus descendentes. Espero que este meu breve texto sirva de reflexão a todos nós, pois nosso futuro está em jogo, e este não é apenas mais um jargão vazio como tantos que lemos por aí. Claro que há muitos jovens que estão sendo bem preparados para a tarefa que lhes caberá, mas o legado da nossa sociedade não pode depender de um punhado de jovens bem instruídos. Nossos valores e nossa cultura só sobreviverão se continuarmos sendo a maioria, e uma maioria ativa!

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