As manifestações de 7 de setembro e a Nota Oficial do Presidente

Eu sempre deixo claro a todos que eu não sou um jornalista. Sou apenas uma pessoa comum que como tantas outras, resolveu se aventurar no mundo político para ocupar um lugar no debate, o qual, creio eu, todo cidadão tem direito. Sempre deixo isto claro para não criar expectativas naqueles que vierem a ler os meus textos, pois sei bem como altas expectativas geram grandes frustrações. Esta foi uma das lições que aprendi nestes mais de dois anos que escrevo neste blog. Outra lição que aprendi diz respeito à maneira correta de se analisar os fatos, principalmente os fatos políticos. Para que possamos fazer uma análise mais próxima possível da realidade, não podemos apenas analisar um fato isolado, mas precisamos analisar os fatos que vieram antes, e que foram os seus causadores, e depois observar os fatos que vieram depois, para conhecer as suas consequências. Se não fizermos isso, corremos o risco de nos posicionar de maneira precipitada, o que minaria a nossa credibilidade junto aos leitores.

Pensei em escrever algo às vésperas do tão aguardado dia 7 de setembro, comentando as expectativas em relação ao que aconteceria. Mas preferi esperar e acompanhar o desenrolar das manifestações, e principalmente o dia seguinte, com os desdobramentos e as reações daqueles que seriam cobrados pelo povo nas ruas.

Hoje tive a certeza de que é melhor aguardar a correr o risco de fazer uma análise precipitada dos fatos. Além disso, não se trata de analisar um evento qualquer, mas de analisar as maiores manifestações da nossa história, suas pautas, seus personagens e as suas consequências, o que não é tarefa fácil.

Confesso que a Nota Oficial emitida pelo presidente Jair Bolsonaro me deixou confuso. Por isso preferi aguardar antes de emitir qualquer opinião. Mas agora, vamos lá.

Primeiramente, gostaria de dizer que compreendo a frustração de algumas pessoas, pois como já mencionei, as expectativas para este 7 de setembro estavam na estratosfera.  Era óbvio que muitas pessoas não teriam suas expectativas correspondidas. E é culpa do presidente? Não! A culpa é daqueles que criaram e incentivaram tais expectativas. E também daqueles que incentivaram uma pauta difusa, defendendo vários pontos diferentes, ao invés de centrar forças numa pauta mais enxuta e específica. Claro que cada um defende o que quiser, mas precisa fazer esta defesa ciente de que as suas demandas poderão não ser atendidas.

Outro ponto que gostaria de destacar é que a política não é feita das atitudes que nós vemos sob os holofotes. A verdadeira política é aquela que ocorre nos bastidores. Por isso muitas vezes, na frente das câmeras os políticos têm posturas com uma intenção oculta, uma mensagem ou sinalização a ser passada a um interlocutor ou a um grupo de interlocutores. É por isso que às vezes as falas e as atitudes de alguns políticos parecem incoerentes. Mas há os casos em que são incoerentes mesmo! Mas em suma, precisamos compreender que a política não é algo simples. Ao contrário, é algo bem complexo!

Para alguns, a nota do presidente pareceu um sinal de fraqueza. Compreendo esta interpretação, pois mostra a percepção de quem está fora da política e desconhece todos os fatores envolvidos na decisão de se publicar tal nota. Também entendo a frustração daqueles que defendem outros caminhos para a solução dos problemas do país, mas estas pessoas se frustraram à toa, pois o presidente Bolsonaro sempre disse de maneira clara e direta que não iria descumprir a Constituição, e que não iria intervir nos outros Poderes da república.

E há uma confusão que muitas pessoas fazem, pois o presidente precisa falar para dois públicos distintos: para os políticos e para os cidadãos comuns. E cada um destes públicos têm uma linguagem própria! Quando o cidadão comum tenta entender uma mensagem dirigida ao mundo político, acaba por não entender, ou por entender de forma distorcida. E este também é um dos motivos que me levam sempre a esperar antes de fazer qualquer tipo de análise precipitada, pois sei que existem movimentos que não são para o público comum, mas destinado apenas à classe política.

Acredito que a decepção e a frustração que muitos sentiram hoje se devem a esta confusão na comunicação política. Apesar de ser uma nota "à nação brasileira", o seu conteúdo na verdade não era direcionado ao cidadão comum, mas sim aos integrantes dos outros Poderes. Prova disso é que o presidente Bolsonaro conversou com o ex-presidente Michel Temer, que auxiliou na confecção da nota. Ora, se de fato fosse uma nota dirigida ao povo brasileiro, qualquer assessor da presidência poderia tê-la escrito, e não seria necessário mandar buscar Temer em São Paulo somente para isto. Claramente se tratava de um movimento político.

O gesto do presidente Bolsonaro de emitir esta nota, embora pareça fraqueza ou sem sentido aos olhos do povo, tem um valor altíssimo no ambiente político. Ela é positiva para o presidente, pois é um passo dado na direção de atingir os objetivos fixados. A oposição já percebeu isso e começou a espernear, como sempre faz.

Portanto, meus amigos, vamos manter a calma e evitar tecer comentários de forma precipitada. A política é complexa, e muitos dos movimentos feitos podem enganar até os mais experientes na arte da análise política. Se até os melhores analistas se confundem, imaginem nós, reles mortais!